Seminário Obscom/PPGCOM UFS nesta quarta

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O Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM-CEPOS), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe, realizará nesta quarta-feira, 21/09, a partir das 14h, um seminário com dois convidados externos para discutir os temas abaixo relacionados. O Seminário é aberto aos interessados e será realizado no andar superior do prédio de Ciências Sociais Aplicadas 2.

Circulação da Informação e Intermediários na convergência digital: agências de notícias, inovação e autorregulação

Por Pedro Aguiar – doutorando do PPGCOM-UERJ

Durante um século e meio, as agências de notícias reinaram de forma discreta mas absoluta, em escala global, como fornecedoras de informação que a imprensa e a mídia não tinham recursos próprios para alcançar. Essa hegemonia começou a ser ameaçada a partir da digitalização dos processos de comunicação e, particularmente sob a convergência digital, com a entrada de novos intermediários no mercado da informação. Hoje, Google e Facebook cada vez mais tentam se vender aos órgãos jornalísticos como canais privilegiados para a disseminação de seus conteúdos, por enquanto para o público, mas potencialmente também para as próprias redações. Em paralelo, as maiores agências transnacionais articulam-se em iniciativas para renovar seus modelos de negócio e garantir a continuidade da demanda para seus serviços. Entre as estratégias que adotam, estão a autorregulação com o desenvolvimento de padrões taxonômicos e protocolos de metadados para rastrear direitos autorais (especialmente sobre fotos), o uso de tecnologias para baixar o custo do trabalho, com a automatização da escrita de certos conteúdos, e a parceria com startups para experimentação de novos produtos e linguagens (como os vídeos imersivos, ou de realidade virtual), especialmente para plataformas móveis. Todas essas estratégias são consequência da relação às vezes de cooperação e às vezes de rivalidade que as agências transnacionais, empresas do século XIX, travam com os intermediários digitais, empresas do século XXI.

O estado de coisas inconstitucional no direito fundamental à comunicação: análise do regime jurídico da radiodifusão audiovisual no Brasil

Vitor Oliveira – Mestre em Direito

O trabalho pretende apresentar dois conceitos pouco trabalhados na ciência jurídica e que, embora desenvolvidos com objetivos distintos e com históricos também distantes, ajudam a explicar um ao outro. O direito fundamental à comunicação é compreendido neste texto como um direito político, e consiste na possibilidade de experimentar um acesso equilibrado aos meios de comunicação. É político, dado que formatação de ideias, valores e símbolos sociais na sociedade contemporânea se desenvolve em grande parte através dos veículos de mídia que são comandados, por seu turno, por uma parcela ínfima da sociedade. A concentração da propriedade na comunicação de massa forma um controle de opinião com resultados semelhantes ao desequilíbrio da representação política a nível institucional. A possibilidade de existência de um oligopólio, por seu turno, se dá tanto pela fraca regulação quanto pelo desrespeito crônico em relação à existente, e é este o último fator que é aqui destacado. Esta anomia jurídica, em que todos os poderes desconsideram tanto o texto Magno quanto à legislação que o regula chama-se estado de coisas inconstitucional, bem representado na situação da radiodifusão audiovisual brasileira, que o trabalho procura desenvolver através da análise da legislação e dados sobre o setor.

Exposição “Coronelismo Eletrônico” na UFPI

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O Grupo de Pesquisa em Comunicação, Economia Política e Diversidade (Comum) leva à Universidade Federal do Piauí (UFPI) a Exposição “Coronelismo Eletrônico”, produzido pelo Grupo de Pesquisa em Políticas e Economia da Informação e da Comunicação (PEIC-UFRJ). O evento será aberto com uma palestra da Profª Drª Suzy dos Santos e Profª Ms. Janaine Aires (UFRJ), idealizadoras da exposição, no dia 26 de setembro. Nos dias 27, 28 e 29 de setembro, as professoras ministram um minicurso sobre o mesmo tema.

O minicurso gerará emissão de certificado aos participantes e as inscrições são gratuitas, com vagas limitadas. Os interessados devem enviar e-mail para grupocomumufpi@gmail.com.

PEIC

O Grupo de Pesquisa em Políticas e Economia da Informação e da Comunicação (PEIC), formado em 1995, busca integrar pesquisa, extensão e docência com o propósito de contribuir para a produção, circulação e socialização do conhecimento bem como para construir pontes de colaboração entre os distintos atores sociais dedicados à pesquisa crítica e à democratização das comunicações.

O PEIC se dedica ao universos das políticas de comunicação, sob o viés da Economia Política da Comunicação, em especial as novas tecnologias de comunicação e a comunicação eletrônica de massa. Os resultados das pesquisas repercutem em dissertações e teses, artigos científicos, cursos, conferências, palestras e comunicações de seus pesquisadores em revistas, livros e eventos nacionais e internacionais. Desta produção destaca-se a natureza interinstitucional do grupo – agregando pesquisadores de instituições distintas – cujo estreito intercâmbio intelectual se traduz em trabalhos de autoria coletiva que compõem grande parte da produção científica.

Conheça mais sobre o projeto “Coronelismo eletrônico” em: http://www.coronelismoeletronico.com.br/

Defender a democracia, pesquisar e praticar a comunicação pública: OBCOMP em seu primeiro ano

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Por Maria Helena Weber (Coordenadora Geral do Observatório da Comunicação Pública)

Na mesma semana em que a equipe do OBCOMP comemorava um ano de implantação do projeto, as ameaças crescentes à radiodifusão pública transformaram a festa em debate.

O OBCOMP é mantido por uma equipe de professores, pesquisadores e profissionais vinculados ao Núcleo de Pesquisa em Comunicação Pública e Política (NUCOP) e ao Grupo de Pesquisa em Comunicação Organizacional, Cultura e Relações de Poder (GCCOP), doutorandos, mestrandos e alunos de graduação que apostam na comunicação pública como teoria, pesquisa e prática imprescindíveis para a experiência plena da democracia. Enquanto a teoria e a pesquisa crescem em debates, teses, dissertações e artigos – como mostra o site –, as práticas e a legislação que as garantem têm sido alvo de cerceamento e cortes profundos. 

Neste primeiro ano, o OBCOMP recebeu 8.592 visitas que acessaram milhares de informações do nosso acervo, distribuídas e classificadas em Notícias, Eventos, Campanhas de Interesse Público, Textos e Opiniões, Vídeos, Entrevistas, Legislação, Instituições (51 grupos de pesquisa; observatórios; associações; estruturas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), Mídias Públicas (agências, imprensa, TV, rádio) e a legislação sobre comunicação pública. O Observatório já é um dos mais importantes repositórios sobre temas relacionados à comunicação pública. A Biblioteca registra referências de mais de 160 livros, 150 artigos acadêmicos, 80 teses e dissertações sobre Comunicação Pública, Democracia Digital, Deliberação, Mídias, Comunicação Governamental, Informação, Política, Opinião Pública e outros temas.

Os dados acima são alguns dos indicativos de limites e avanços da construção histórica da comunicação pública no Brasil, especialmente a partir de meados dos anos 80, quando pensávamos na volta da democracia, na recuperação da voz da sociedade, na democratização dos meios de comunicação, na legislação que garantisse a radiodifusão pública. Diante disso, esse editorial não pode apenas registrar e comemorar as conquistas do OBCOMP, mas, por estas, é que tem obrigação de se posicionar diante da insólita perseguição à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que agride a democracia e trava o avanço histórico da radiodifusão pública.

Desde a sua criação em 2007, o investimento e a estrutura da EBC permitiram apostar na concretização de uma luta antiga por um “sistema público de comunicação” formado pela  TV BrasilTV Brasil InternacionalAgência BrasilRadioagência Nacional e por emissoras de rádio AM e FM denominadas Rádio Nacional (Rio de Janeiro,  Brasília, Amazônia OC, Alto Solimões) e a Rádio MEC (AM e FM), do Rio de Janeiro. A autonomia editorial garantida pelo seu Conselho Curador agora está restrita à compreensão do Poder Executivo, que a define como sendo a comunicação de governo, conforme a rápida edição da MP 744/2016.  Não basta a TV Nacional do Brasil (TV NBR) para registrar as ações governamentais, não basta o apoio das mídias de massa ao governo Temer, que demonstra insegurança quanto à liberdade de expressão própria das democracias. O desmanche da EBC e o apagamento de seu objetivo de “espelhar de maneira mais fidedigna a complexidade cultural brasileira, ocupando um espaço complementar, não preenchido pelos canais privados” (disponível aqui) atinge diretamente o projeto da democracia brasileira. Aos canais públicos de rádio e televisão (embora com vínculos institucionais) como a TV Senado, TV Câmara, TV Justiça, TVs educativas, Rádio e TVs de universidades públicas serão aplicadas as mesmas justificativas de restrição legal da liberdade de expressão?

O impacto do controle legal ou repressivo nas democracias inicia pela vigilância da liberdade de expressão. Conforme a notícia publicada neste site, recentemente, a Rádio da Universidade da UFRGS decidiu pela suspensão de um programa de entrevista, sob a responsabilidade do Curso de Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (FABICO), porque o entrevistado Benedito César utilizou a palavra Golpe para se referir ao contexto político brasileiro. A rápida mobilização dos professores e a circulação da impactante notícia foram suficientes para que a direção da Rádio autorizasse a publicação da entrevista e pedisse desculpas ao professor entrevistado.

Esses dois insólitos atentados ao exercício da livre expressão, em pleno regime democrático, reforçam a necessidade de que continuemos a pesquisar, a publicar, a debater teorias e práticas da comunicação pública em suas múltiplas dimensões. O Observatório de Comunicação Pública deu certo e está aberto à publicação de textos, opiniões e contribuições sobre temas de interesse público abrigados nas perspectivas da comunicação, da política e da sociedade que contribuam para o debate sobre a comunicação pública – e também, por consequência, para a valorização e defesa da democracia.

Visite e colabore com o OBCOMP: http://www.ufrgs.br/obcomp/

Inscrições para hospedagem solidária na ULEPICC-BR 2016

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A coordenação do VI Encontro Nacional da ULEPICC Brasil 2016 está com inscrições abertas até o dia 25 de setembro para se cadastrar como anfitrião ou candidato a hóspede da hospedagem solidária durante o evento.

A hospedagem solidária é uma prática de intercâmbio para quem prefere um bom sofá amigo ao vazio de um hotel. Além de promover encontros, propicia o fortalecimento de uma rede de relações solidárias e mais orgânicas. Se você é de Brasília e pretende participar do ULEPICC 2016, inscreva seu sofá para receber um participante de outro Estado ou País. Além de fazer novos amigos, você terá desconto de 50% na taxa de inscrição.

Preencha o formulário abaixo e envie para ulepiccbrasilia@gmail.com

CLIQUE AQUI para se cadastrar como anfitrião.

CLIQUE AQUI para se cadastrar como candidato a hóspede.

A coordenação do VI Ulepicc esclarece que atuará apenas como mediadora entre os anfitriões e hóspedes, por via eletrônica. Você receberá um e-mail confirmando se foi selecionado para ser anfitrião ou hóspede. Para mais esclarecimentos, faça contato pelo e-mail ulepiccbrasilia@gmail.com.

Chamadas

O evento segue com chamada de resumos expandidos aberta para os Grupos de Trabalho até o dia 30 de setembro e para a Jornada de Doutorandos até o dia 05 de outubro.

Inscrições abertas para a 4ª Jornada de Doutorandos da Ulepicc Brasil 2016

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O Capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC–Brasil) e a Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC-UnB) convidam para 4ª Jornada de Doutorando. A atividade será realizada durante o VI Encontro Nacional da ULEPICC Brasil 2016, no dia 9 de novembro, em Brasília/DF. As inscrições estão abertas até o dia 5 de outubro.

Podem participar todos os doutorandos em um Programa de Pós-graduação do Brasil ou do exterior que, em seu projeto de tese, trabalhem temáticas relativas à Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura.

A Jornada traz uma oportunidade única para o participante de ter o seu projeto discutido por renomados pesquisadores da Economia Política da Comunicação. O trabalho aceito terá um professor doutor como relator, que oralmente fará um comentário acerca do projeto apresentado e, em seguida, será debatido pelos professores convidados.

O interessado pode inscrever um único projeto na Jornada de Doutorandos, além de artigos nos Grupos de Trabalho da Ulepicc. A taxa de inscrição é única. Uma vez inscrito no VI Congresso da Ulepicc-Br já estará automaticamente inscrito na Jornada, com o aceite do projeto.

4ª Jornada de Doutorandos

Prazo para envio dos resumos expandidos: 05/10/2016
Divulgação da relação dos resumos expandidos aceitos: 10/10/2016
Data do evento: 09/11/2010

Normas para encaminhamento dos projetos de pesquisa: os textos devem conter de 10 mil caracteres (com espaços) a 20 mil caracteres (com espaços), contendo um resumo do projeto de tese, envolvendo necessariamente os seguintes elementos, além de outros itens que pretenda incorporar: (a) problema de pesquisa; (b) objetivos; (c) metodologia; (d) indicação de até 10 referências bibliográficas.

Tais projetos deverão ser submetidos em português, em formato Word (.doc), escritos em Times New Roman, corpo 12 e entrelinhas 1,5. O corpo do trabalho deverá ser precedido por um cabeçalho (corpo 10, entrelinhas simples) contendo os seguintes itens:

4ª JORNADA DE DOUTORANDOS DA ULEPICC-BRASIL
Título do trabalho:
Autor:
Orientador:
Programa de pós-graduação e instituição de doutoramento:
Data de ingresso no programa:

Avaliação: os trabalhos inscritos serão avaliados conforme sua pertinência com a área da Economia Política da Comunicação, construção da problemática de pesquisa, definição dos objetivos e operacionalização metodológica. Aqueles que forem aceitos deverão ser apresentados no evento, em tempo a ser definido posteriormente, sendo informado previamente aos aceitos.

OBS: Não será possível substituir o texto após a entrega, pois todo o material será encaminhado para os professores debatedores, para o coordenador da mesa onde o trabalho será apresentado e para os outros integrantes da mesa.

Relator: todo trabalho apresentado terá um professor doutor como relator, que oralmente fará um comentário acerca do projeto apresentado.

Inscrições: todos os inscritos no VI Congresso da Ulepicc-Br estão automaticamente também inscritos, como participantes, na IV Jornada de Doutorandos, não requerendo, portanto, pagamento adicional. Os expositores serão aqueles doutorandos que tiverem seus trabalhos aceitos.

Número de trabalhos: cada doutorando poderá inscrever somente um trabalho na Jornada.

Autoria: tratando-se de um projeto (resumido) de tese, os trabalhos somente poderão ter um autor, não se admitindo coautorias sob hipótese alguma.

* E-mail para envio dos resumos: ulepiccbrasilia@gmail.com

* Data: 09 de outubro de 2010, das 15 às 17 horas.

* Local: Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – FAC/UnB

* Coordenação: Prof. Dr. Bruno Lima Rocha (Unisinos).

As inscrições para os Grupos de Trabalho da ULEPICC-BR 2016 seguem abertas até o dia 10 de outubro. Mais informações aqui.

A construção da memória da televisão no Brasil

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Por Sérgio Mattos*

As produções acadêmicas sobre a televisão brasileira foram iniciadas em fins da década de 1960 e intensificadas a partir da década de 1980, com a multiplicação dos cursos de Comunicação e implantação de programas de pós-graduação. Em sua maioria, esses estudos, dedicam-se a analisar a produção, exibição, consumo, comercialização e propostas temáticas desse veículo.

Os primeiros trabalhos limitavam-se ao conteúdo de sua programação e seus efeitos sociais. Na década de 1970, muitos estudos procuravam a estrutura organizacional da mídia televisiva, analisando mensagens e efeitos no receptor, procurando desvendar suas relações com os grupos dominantes e demonstrando as características capitalista dependente da televisão dependente (MATTOS, 2007, p. 35).

Até o ano de 1980, o material bibliográfico sobre a televisão no Brasil era basicamente constituído por análises descritivas sobre o desenvolvimento desse veículo e como ele influenciou e foi utilizado pelas classes dominantes (MARQUES DE MELO, 1980).

Até o ano de 1990, os estudos acadêmicos sobre a televisão produzidos no Brasil não ultrapassavam a marca dos cem títulos (MATTOS, 1990). Até o ano 2000, quando a televisão festejou 50 anos ainda era possível identificar e quantificar livros, dissertações e teses focadas no assunto televisão (MATTOS, 2000).

Em comemoração aos 50 anos da televisão Brasil, no ano 2000, inúmeras publicações registraram o fato e divulgaram depoimentos de profissionais. Àquela época, foram identificados, classificados e descritos parte da bibliografia sobre a televisão brasileira, pois já era impossível identificar toda a produção existente (MATTOS, 2000).

Nos últimos 16 anos (2000 – 2016), muitas pesquisas foram realizadas e publicadas sem que tenhamos uma ideia exata do que está sendo feito por todo o país, o que nos leva a imaginar a necessidade de se resgatar, preservar e disponibilizar eletronicamente esses trabalhos.

Um levantamento aleatório nos sites dos Programas de Pós-Graduação, na CAPES e no CNPq , nos repositórios das Universidades ou uma consulta ao banco de dados do SciELLO Books e do Google/Internet, por exemplo, com palavras chaves, nos apresenta uma relação enorme de trabalhos realizados, com uma concentração nos seguintes temas: Recepção e os efeitos da mídia televisiva; O controle social da TV; Censura e TV; Programas educativos; TV Publica versus TV Privada; A propriedade cruzada na mídia; Políticas de Comunicação; Mercado de TV; Modelo de Negócio da Televisão; Poder e Televisão; TV por assinatura; Aspectos Mercadológicos; Produção de programas televisivos; Políticas de Comunicação; Questões de hegemonia, ideologia e dominação pela TV; Discurso televisivo; a Televisão como criadora da identidade nacional; Telenovela, Telejornal; e raros trabalhos sobre Legislação e estudos comparativos com outros países Latino americanos, no caso, os do Mercosul.; estudos de legislação apresentando indicadores comparativos da mídia televisiva no Mercosul; Mídia alternativa; estruturas televisuais na América Latina; O fenômeno da Web TV, Formatos e Linguagens; Processos midiáticos contra-hegemônicos, Regionalização da produção; e, Democratização da mídia televisiva.

Além desses, inúmeros são os trabalhos sobre emissoras de televisão, a exemplo da Rede Globo, em maior número, sobre programas específicos de uma emissora, como o jornal Nacional da Globo, ou programas evangélicos, sobre as emissoras públicas e educativas dentre muitos outros temas. Isto sem falar de uma quantidade imensurável de livros publicados, de cunho memorialista ou biográficos, que registram a história de emissoras e de indivíduos envolvidos no fazer televisão.

Saliente-se que a televisão também é estudada por pesquisadores das áreas de Antropologia, Educação, História, Psicologia e Publicidade, entre outras, que concentram seus estudos nos efeitos e influência da TV no comportamento, no desenvolvimento de hábitos de consumo e atitudes; no impacto das mensagens de violência e de erotismo no comportamento das audiências e no processo de ensino aprendizagem.

PROPOSTA DE ABORDAGEM – Mesmo sem ter o conhecimento de tudo o que se tem publicado e estudado sobre a televisão brasileira, todos os pesquisadores do campo têm consciência de que a história da televisão brasileira, com 66 anos de existência operacional, está cheia de lacunas a serem preenchidas. Muitos são os trabalhos realizados e publicados, mas para que possamos entender o seu processo de desenvolvimento é necessário pesquisar outros aspectos e detalhes até agora desconsiderados.

É de fundamental importância que os novos estudos sejam realizados sem dissociar a televisão do sistema de comunicação do país, do qual ela é apenas uma parte. A televisão deve ser “analisada como parte de um processo de mudanças e permanências das estruturas econômicas, políticas e sociais do país e não como parte isolada” (MATTOS, 2007, p.38). Para tanto, é necessário o uso de uma abordagem dentro do contexto social, econômico e político do país (MATTOS, 2009), de acordo com a tradição crítica latino-americana que tem por base o referencial teórico da Economia Política da Comunicação.

[…] para estudar as causas e efeitos do processo global, precisamos construir uma teoria crítica e social da globalização que seja mais abrangente do que as teorias identificadas como sendo de direita ou de esquerda.

[…] Os estudos que aplicam as teorias da globalização para explicar o que está ocorrendo com a televisão em determinado país, o Brasil, por exemplo, não podem deixar de considerar a realidade local em relação à realidade global, a regionalização versus a globalização.

[…] o desenvolvimento da nossa televisão também sofreu a influência direta e indireta das mudanças do contexto. Contexto que apresenta não uma, mas várias realidades, devido à anomalia que é a nossa história contemporânea, que torna quase impossível a tarefa de se estabelecer critérios com os rigores da historiografia sob pena de apresentarmos resultados com distorções (MATTOS, 2007, p 39-40).

Para uma melhor compreensão da evolução de um veículo como a televisão, no Brasil ou em qualquer outro país Latino Americano, é necessário a aplicação de uma estrutura de análise que considere como fundamental o contexto histórico com todas as suas nuances, socioeconômica, cultural e política. “pois só assim poderemos compreender, plenamente, a evolução da televisão e suas variações, no tempo e no espaço, devido às influências internas e externas” (MATTOS 2007, p.41).

Todos os estudos de aspectos particulares da televisão devem ser considerados como elementos interdependentes de um contexto global. Cada estudo realizado sobre a televisão deve levar em consideração que o assunto pesquisado – seja ele um aspecto de produção, um recorte de programação ou sobre uma emissora – continua sendo parte de um todo, recebendo influência do meio, atuando sobre ele e modificando a realidade. Precisamos estar conscientes da televisão como unidade em si e da interrelação dela com o meio no qual está inserida, sofrendo influência e influenciando a realidade do contexto socioeconômico político e cultural (MATTOS, 2007, p. 41.)

PROPOSIÇÕES – Considerando as tecnologias digitais e a convergência das mídias, devemos pesquisar se a televisão (aberta e fechada) e a Internet são ou não responsáveis pela queda acentuada da venda avulsa dos jornais nos últimos cinco anos apesar do sucesso crescente da mídia impressa de distribuição gratuita (MATTOS, 2014). Qual a influência direta da televisão aberta e da TV por assinatura na diminuição do índice de leitura de jornais, livros e revistas no país?

Muitas inferências e hipóteses têm sido levantadas sobre a influência da televisão, mas os pesquisadores precisam confirmá-las. Precisamos agora conectá-las e inseri-las no contexto histórico, socioeconômico, político e cultural para entendermos o que está acontecendo hoje. Enfim, precisamos encontrar uma nova maneira de entender a televisão como um dos veículos para a compreensão da realidade.

É necessário estudar o processo de produção em si e o processo de recepção como um ato de opção individual e não coletiva. É preciso realizar estudos qualitativos sobre como as mensagens são recebidas e processadas, levando-se em consideração o contexto e as experiências individuais e sem perder de vista que a televisão é apenas a parte de um processo que envolve a produção, circulação e consumo por meio dos quais os significados são construídos.

Precisamos, portanto, entre outras propostas, atualizar o Estado d’Arte da Televisão, criando um Banco de Dados, com todo o acervo bibliográfico produzido no país por Editoras Públicas e Privadas, além do material produzido pelas Universidades (dissertações de mestrado, teses de doutorado, monografias de conclusão de cursos de especialização em nível de pós-graduação e TCCs de graduação) sobre a televisão brasileira. É necessário, garantir que este inventário seja disponibilizado On Line, ao alcance de todos os pesquisadores.

Precisamos observar e comparar a mídia Televisão dentro do contexto histórico, socioeconômico, político e cultural do país, levando em consideração a sua interdependência e relações com todos os fatores intervenientes no processo.

Enfim, precisamos acompanhar a implantação da tecnologia digital e sua interferência direta no desempenho e produção de conteúdos televisivos, bem como o impacto que o Mobile TV está exercendo sobre o conteúdo da televisão.

REFERÊNCIAS

MARQUES DE MELO, José de. Comunicação e classes subalternas. São Paulo: Cortez, 1980.

MATTOS, Sérgio. A televisão no Brasil: 50 anos de história (1950-2000). Salvador: Editora PAS – Edições Ianamá, 2000.

MATTOS, Sérgio (Org.). Comunicação Plural. Salvador: EDUFBA, 2007 (Coleção Sala de aula, nº 4).

MATTOS, Sergio. Dilemas do Jornalismo Impresso na busca de um novo modelo de negócio. In: Revista Eptic Online, vol. 16, n.1,p.19-32, jan-abr., 2014.

MATTOS, Sérgio. História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política. Petrópolis: Editora Vozes, 5ª Edição, 2010.

MATTOS, Sergio. O Contexto Midiático. Salvador: IGHB, 2009.

MATTOS, Sérgio. Um Perfil da TV Brasileira: 40 anos de história (1950-1990). Salvador: ABAP/Jornal A Tarde, 1990.

* Sérgio Mattos é Jornalista diplomado pela UFBA, Mestre e Doutor em Comunicação pela Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos. É autor de 49 livros dentre os quais A História da Televisão Brasileira: uma visão econômica, social e política (Vozes, 2010, 5ª edição).

Chamada para dossiê “Comunicação de Interesse Público”

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A Revista Comunicação & Inovação está com chamada aberta até o dia 31 de janeiro de 2017 para o dossiê “Comunicação de Interesse Público”.

Ementa

O dossiê temático Comunicação de interesse Público reunirá artigos que tratem de processos e produtos comunicacionais voltados à formulação de demandas e sua consequente repercussão no governo, na sociedade, no setor produtivo e na mídia, que tenham como beneficiário direto a sociedade.

O conceito de Comunicação de Interesse Público, sob esse ponto de vista, transcende a comunicação governamental, incluindo o universo estatal, o privado e o terceiro setor. Assim, a comunicação deve estar integrada às noções de espaço público e cidadania visando estabelecer, fortalecer e consolidar mecanismos e espaços de participação. Por meio dela os cidadãos são vistos como produtores ativos no processo, participando de espaços de discussão e deliberação sobre temas políticos e sociais.

Nesse sentido, o dossiê visa promover a discussão de questões relacionadas ao bem comum em áreas como: educação, cultura, saúde, meio ambiente. Destacam-se, entre outros temas, investigações sobre: narrativa midiática na educação; processo de difusão científica; comunicação e sustentabilidade; comunicação de direitos civis; comunicação e saúde; comunicação em organizações não governamentais; comunicação de interesse público no setor produtivo; comunicação pública;teoria da comunicação na esfera pública; comunicação e arte urbana.

Revista

A revista Comunicação & Inovação é publicação quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, com avaliação Qualis B1 em CSAI. Artigos de temas livres são recebidos em fluxo contínuo e as normas podem ser acessadas em: http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/index

Chamada resumos para o 5º Encontro (Inter) Nacional de Produção Cultural

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A Universidade Federal do Pampa, campus Jaguarão/RS, está com submissão de resumos aberta até o dia 30 de setembro para o 5º Encontro (Inter) Nacional de Produção Cultural (ENPROCULT 2016), que ocorrerá nos dias 28, 29 e 30 de NOVEMBRO de 2016. O evento é dedicado a estudantes, professores, pesquisadores, agentes culturais, artistas e todxs que se interessam pelo campo da Cultura.

Submissão de Trabalhos

Conforme o Calendário de Inscrições, autoras e autores devem escolher um Grupo de Trabalho, para submeter RESUMOS com título e um limite de 250 palavras. Estes serão avaliados e os TRABALHOS aprovados, a partir dos resumos, deverão ser enviados para inscricao@enprocult.com.br,  contendo no máximo 8.000 palavras, excetuando-se o Título e as Referências.

Cada proponente poderá submeter apenas um RESUMO, enquanto autor/a principal.

Cada TRABALHO poderá ter até três coautores/as.

Os RESUMOS poderão ser apresentados apenas por autor/a ou coautores/as.

A inscrição no evento é condição para que o TRABALHO seja incluído na programação, bem como é imprescindível para a confecção do CERTIFICADO de apresentação.

Grupos de Trabalho

[GT1] Políticas Culturais: participação democrática, descentralização e desenvolvimento

O grupo de trabalho visa refletir teoricamente sobre a descrição, a análise e a avaliação de programas, de projetos e de ações  relacionadas às políticas culturais. Em especial aquelas voltadas à ampliação da participação da sociedade civil, à descentralização das decisões e ao desenvolvimento cultural (local, regional, mundial).

[GT2] Formação, reconhecimento e campo de atuação

Esse GT pretende contribuir com a análise e a reflexão crítica sobre a formação  e a consolidação da profissionalização da Produção Cultural. Os principais temas versam sobre a formação empírica e acadêmica, as ações e as articulações para o reconhecimento das práticas profissionais, bem como a formalização e institucionalização do campo de atuação.

[GT3] Comunicação e consumo cultural

Tendo em vista as mudanças contemporâneas acerca dos usos e das apropriações de bens, de serviços, de práticas e a circulação de produtos culturais, a proposta deste grupo de trabalho é debater a relação entre a comunicação, a cultura e o consumo. De forma multidisciplinar, as reflexões girarão em torno de temas como meios de produção, de distribuição e de recepção, consumo privado e público (e em público) de cultura, condições para o consumo e acesso, economia da cultura, práticas comunicacionais no âmbito da cultura, estratégias culturais com usos das tecnologias de informação e comunicação, entre outros aspectos.

[GT4] Memória e patrimônio cultural

Frente ao cenário de produção e gestão cultural, este grupo de trabalho pretende dialogar sobre estudos de memória e de patrimônio e suas relações com o campo da preservação de bens materiais e imateriais. Serão considerados trabalhos que visem descrever, analisar e refletir sobre o universo de bibliotecas, museus, centros de documentação, acervos, coleções, bem como sobre as expressões tradicionais, os inventários culturais, a memória social, coletiva e o patrimônio cultural de grupos sociais.

[GT5] Culturas, identidades e territorialidades

Discutir os processos de construção das identidades e suas articulações com as subjetividades, as culturas, as artes e os territórios culturais são os objetivos deste grupo de trabalho. O GT tem abordagem interdisciplinar ancorada em teorias antropológicas, sociológicas, filosóficas, historiográficas, geográficas, entre outras.

[GT6] Práticas e experiências de organização da cultura

Este grupo de trabalho visa ampliar os debates sobre as organizações culturais, valorizando as práticas e as experiências de agentes culturais.   Refletirá sobre formas alternativas de gestão, produção e organização baseadas no trabalho colaborativo, em rede e desenvolvidos na horizontalidade, entendendo a cultura como uma arena de disputas, negociações e resistência social.

[GT7] Linguagens e produção artístico-culturais

As análises sobre as linguagens artísticas, as experiências de grupos e os processos de produção artísticas-culturais interessam a este grupo de trabalho. As reflexões teóricas vão privilegiar estudos sobre teatro, música, dança, circo, culturas indígenas, afro-brasileiras, povos ciganos, culturas populares, tradicionais, artesanato, artes visuais, digitais, design, moda, literatura, livro, leitura, arquitetura e urbanismo enquanto expressões artísticas.

Para mais informações, acesse o site do evento: https://eventos.unipampa.edu.b r/enprocult/

Pesquisadores de economia política discutem o papel e importância de políticas públicas

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Fonte: Renata Galf (Departamento de Jornalismo e Editoração – CJE/ECA)

Abordando o tema das políticas culturais, o VIII Fórum EPTIC do Grupo de Pesquisa de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura, realizado no dia 7 de setembro ao longo do 39º INTERCOM, teve como linha de condução o seguinte questionamento: “A importância das Políticas Culturais: quais são nossos Direitos?”.

Para o expositor da mesa, o professor Francisco Humberto Cunha Filho, da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é importante frisar que há diversas definições de cultura, desde a sociológica, que leva em consideração as populações e o ser humano, até as filosóficas e jurídicas, que são mais restritas. Para demarcá-las, são considerados tanto seu conteúdo enquanto arte, memória coletiva e fonte do saber quanto sua temporalidade e finalidade. Para a definição jurídica, por exemplo, ao se determinar políticas culturais, é importante saber se elas atuam no sentido da dignidade da pessoa humana, um dos nortes da Constituição de 1988.

De acordo com o Ruy Sardinha Lopes da USP São Carlos e um dos debatedores do fórum, apesar de não estar posta, a definição do que é cultura está pressuposta em documentos como constituições e leis nacionais, bem como em tratados internacionais. Para ele, é possível identificar neles a presença da ideia de uma identidade cultural, já que a pluralidade cultural implicaria mais dificuldades em estabelecer uma legislação.20160907_100732

Há também a tendência de se considerar a cultura como os campos das belas artes e da produção artística, enquanto a definição antropológica seria mais ampla, de acordo com Lopes. Já os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef teriam adotado esta última definição mais antropológica, atuando no sentido de ampliar o escopo dos direitos culturais, conforme afirmou Cunha Filho.

Para Lopes, vive-se um momento político em que os direitos culturais estão sendo bastante desrespeitados, sendo fundamental a existência de políticas públicas e de um arcabouço institucional que garanta esses direitos, que, por serem recentes, estão em desenvolvimento doutrinário.

O outro debatedor do fórum, Alexandre Almeida Barbalho, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), deu destaque a dois tipos ideais que norteiam, entre outras, a discussão em torno da Economia Política da Cultura, o comunitarismo e o liberalismo, no qual o primeiro seria a predominância do coletivo sobre o individual e o segundo, do indivíduo sobre a coletividade. Ideias que também balizaram o debate acerca da necessidade de políticas públicas de cultura, já que, para aqueles que defendem um Estado mínimo, estas seriam desnecessárias.

Para Cunha Filho, essa questão já teria sido superada, estando clara a necessidade de tais políticas, visto que a legislação sozinha, ao incorporar direitos previstos em acordos internacionais, como é o caso da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural de 2001 da Unesco, não oferece mecanismos para a efetivação desses direitos.

Da mesma forma que há leis que são automaticamente aplicáveis por si só, como o direito à livre comunicação, há direitos cuja concretização e efetivação demandam legislação e fiscalização, continua ele. Por isso, se está previsto na Constituição que o Estado garantirá o pleno exercício dos direitos culturais, é preciso que haja leis definindo quais são esses incentivos, quanto tempo eles durarão e a quem beneficiarão. “A política não é coadjuvante nesse processo, ela deve ser, juntamente ao direito, um das protagonistas.”

Além do “Estado” e do “Direito”, citados como agentes desses processos, Barbalho destaca a importância dos artistas e dos movimentos políticos culturais na disputa pela ampliação desses direitos, ao longo do tempo, em busca de alcançar nem o estatal nem o privado, mas o comum. O que também dialoga com a consideração final de Cunha Filho de que a legislação representa apenas um terço das políticas públicas culturais, sendo a vivência cotidiana das mesmas o que as atualiza e legitima.

*Interessados em saber mais sobre as atividades do grupo de pesquisa podem entrar em contato   por meio do grupo público no Facebook “Discutindo Economia Política da Comunicação (EPC)”.

Aquarius – O indivíduo e a cidade

aquarius

Por Vinicius Oliveira e Romero Venâncio (Esquerda Diário)*

Um filme que chega na hora certa em um Brasil em transe. A confissão propositada que reina em nossas terras, não é coisa de amador ou puramente espontânea. O filme de Kleber Mendonça Filho vai em dos pontos centrais: o que pode (ou que deve) fazer um indivíduo em situação de opressão onde quase tudo ou quase todos lhe forçam a fazer o que não quer ou não pode fazer? Questão tão antiga quanto a própria existência do ser humano. Encontramos em textos antigos, relatos homéricos ou nas filosofias que floresceram no Ocidente ou além dele. As respostas também foram as mais variadas na história. Temos visto que o medo, o terror, a frustração ou desânimo têm sido as marcas hegemônicas das respostas… Mas olhando a “história a contrapelo”, temos muito de resistência e desconfiança às promessas ou imposições advindas dos cínicos donos do poder de plantão. “Aquarius” é um pérola para ficar para a história do cinema brasileiro nesse quesito. Uma sinopse superficial nos informa que trata-se de uma filme onde uma mulher na sua terceira idade e morando só num prédio que leva o nome do filme, torna-se a única moradora a não aceitar a oferta de uma construtora de venda de seu apartamento e o filme quase todo é a sua resistência aos assédios que vem de todos os lados. Claramente pobre essa rápida informação. O filme em seus detalhes é bem mais que isso.

CLARA/TAIGUARA

O filme começa a nos preparar para uma Recife em 1980 em fotos ao som da música de Taiguara e sua composição “Hoje”. Para uma geração inteira de brasileiros, Taiguara não significa mais nada… Para uma outra geração que ainda existe e vive, Taiguara é símbolo de um passado que teima em não passar. A personagem Clara do filme pertence claramente a essa geração… Taiguara pertence ao momento em que o Brasil foi tragado por uma ditadura e muitos de sua geração se colocou na resistência ao militares com a sua voz, com a sua poesia, com a sua canção… Clara, a personagem vivida de maneira brilhante pela atriz Sônia Braga, nos faz ver que desde os anos 80, carregava a formação e informação de quem sabia onde estava e onde pisava naqueles anos de chumbo e exílios… O interessante e que merece destaque é que toda a trilha sonora inicial indica alguma forma resistência do indivíduo: Queen, Gilberto Gil… A vitória sobre um câncer anunciado de público pelo marido da personagem, já nos coloca diante de uma “premonição” daquilo que será a personagem na sua sabia velhice… Quem escapa a um câncer, vê a vida de outra forma… Já brigou “o medo maior”… Já viu de perto e dentro de si “o medo maior”. Os cínicos e “pós-modernos” donos de uma construtora ávida por transformar tudo à sua imagem e semelhança (ou seja, tudo transformado à imagem e semelhança no Capital e as pessoas que se danem e se arranjem como poderem!). Sabemos no avançar do filme que Clara e sua relação com o Taiguara da abertura do filme não é apenas uma relação casual ou de enfeite no filme. Trata-se de uma relação orgânica. Clara é uma jornalista que tem uma “tese” sobre música. É povoada de vinil e matem a música de sua época como forma de conhecimento e resistência… Kleber Mendonça e sua Clara conseguem tirar sabedoria até de um momento da música de Roberto Carlos (minha antipatia por esta figura mereceu ficou em suspensão nesse momento do filme!). É como se o filme quisesse nos dizer em letras e expressões claras: a arte forma o indivíduo naquilo que ele tem de mais importante em sua segurança perante um mundo cruel e que não adianta fazer como a rapaz bonitinho e ordinário que persegue a personagem (ele se apresenta como aquele que estudou nos Estados Unidos). A personagem é direta num momento alto do filme: caráter não consegue em curso universitário (seja em que país for). A história é outra e se fortalece por outros caminho e que uma cara bonita e ordinária não conseguirá ter/viver. Todo o filme é o desenrolar da luta vivida por um indivíduo em não deixar-se dominar pelas seduções e assédios vários de um sistema que quer todo o tempo lhe impor o que fazer… Impor o que ser… A personagem encontra em si e na sua formação as palavras certas para cada pessoa que tenta lhe convencer das sua “loucura” ou “teimosia”. Amigos, amigas, filhos e filhas, etc… Um muito a posição da personagem nos remete a luta e a escrita de Henry Thoreau e numa das suas marcantes frases: “Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora, dê-lhes alicerces.” “Aquarius” nos faz ver como essa resistência e essa força interna da personagem, tornam-se força no “direito à cidade”.

CLARA. O Amor, o câncer e a cidade

O filme nos evoca a atenção a partir dos seus subtítulos iniciais que condizem não apenas com momentos históricos de Clara, mas talvez pela nossa análise, com sua concepção sobre grandes questões. O cabelo trata da questão individual, que relaciona-se com o indivíduo, a escolha de Taiguara abordada no ponto anterior contempla perfeitamente esta questão. Mas o amor e o câncer de Clara podem ser entendido a partir de outra questão: a Cidade.

O amor de Clara. A expectativa senso comum seria o prelúdio com seu amor, o seu esposo, mas novamente o presente e a realidade cospem na tela qualquer espécie de romantismo tolo, que não condizem com a forma de ver a vida de Clara. O amor, como todos os amores tem um lugar. Um local, um cenário que é tão presente e necessário quanto os braços para os abraços, quanto a boca para o beijo. O amor das pessoas e dos lugares que dividem o mesmo tempo, o momento histórico conhecido como presente agora, como passado quando foi e como futuro quando “há de lhe convir”. Porque o futuro não pode ser alheios aos indivíduos de tal maneira que nunca serão realmente coletivos, ou reduzido aos caprichos de sua única filha ou da construtora mais rica. O essencial do coletivo tem que apresentar-se ao indivíduos por dentro e por fora, senão será externo, alheio em outros momentos virtuais. E com essa virtualidade do tempo presente que o filme brinca. Essa virtualidade sinônimo do real, essa virtualidade que disputa com o concreto, com as paredes, com o Aquarius. Mas interessante dizer que não é qualquer virtualidade que a autora disputa, mas com a virtualidade que acumula para o capital, para o lucro e gozo dos donos dos meios, que apresentam-se sofisticados, sedutores para uma geração que acredita em novas polêmicas tolas sobre a disputa entre o vinil e o mp3, ou entre o Aquarius e o novo Aquarius. O lugar, a perda do lugar mostra ao individuo a perda da cidade, do direito à cidade.

Direito à cidade em que o cotidiano concreto não é com as paredes, mas com as pessoas e todas as suas contradições, com a natureza, representada pela bela praia e sua disputa na Brasília Formosa, com o bairro, com a mobilidade, com a vista, com a brisa, com a trilha sonora do lugar, que sintetiza o ataque mais direto, um ataque aos amores de Clara. O filme através da memória presente e do presente que não deixa-se esquecer não dá espaço para a linearidade ou projeções fora do tempo e fora do lugar, mostra que existem cidades dentro da cidade, que existem os donos de moradias e as domésticas que ali dormem, que existem trabalhadores que residem em outros bairros: que salvam vidas, que vendem drogas, ou que simplesmente somam-se no relaxamento coletivo contrariando estereótipos criminalizadores e exterminantes.

A perda da cidade pelas construtoras, pelo sistema por um consenso fora do lugar, por velocidades da rotina, e uma rotina sem reflexão que não enxerga a cor do prédio que mora, apesar de apaixonar-se com a pessoa que conheceu no Facebook e fazer juras de amor gravadas, mas sem qualquer emoção. E justamente nesse concreto desmemoriado, segregador, que nos desconecta em que as cidades modelo das construtoras, dos políticos mercadores do espaço apresentam como modernas, seguras. Contra este câncer, que suprime o direito a cidade, as potencialidades dos sujeitos urbanos em coletivos e não aglomerados, que Clara aponta diretamente, irá lutar com todas as forças, e não irá sozinha.

*Romero Venâncio é professor adjunto da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião) e Vinicius Oliveira é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFS.