A luta epistemológica é um dos temas presentes nos debates com a participação de pesquisadores brasileiros da Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC). A palestra de abertura do XIII Seminário OBSCOM/CEPOS, evento realizado na Universidade Federal de Sergipe (UFS) no dia 11 de dezembro de 2014, teve como convidado o professor Ruy Sardinha Lopes (USP). Com base nesta preocupação, o atual editor geral da Revista EPTIC Online apresentou “O futuro da EPC”, percorrendo do estado da arte aos desafios para este eixo teórico-metodológico nos próximos anos.
Ruy contou o estado da arte que compõe a constituição dos estudos em EPC tendo como pressuposto que não se trata de uma área de interface ou de uma discussão culturalista em indústrias culturais, mas de estudos em função do modelo econômico que deu origem aos produtos culturais.
Apresentando as tradições estadunidense e europeia, que tiveram como eixos inaugurais conceitos como mercadoria-audiência, função publicidade e cultura flot, Ruy chega ao desenvolvimento particular da área na América Latina. Segundo ele, há o resgate do pensamento marxista com questões culturais importantes, na constituição de um pensamento crítico que se desenvolveu de maneira quase autônoma. O “passo atrás” de voltar a Marx para entender o projeto de desenvolvimento aplicado após a 2ª Guerra Mundial permaneceria para observar a mudança na própria lógica de acumulação, que gerou a necessidade de oferta de instrumentos analíticos específicos.
Assim, segundo o pesquisador da USP, houve a necessidade de constituição de uma nova agenda que superasse as análises de conteúdo, com velhos esquemas perdendo vigência. Dentre os elementos que compõem esta agenda estariam: o processo de convergência tecnológica; e a centralidade das indústrias culturais nos processos de acumulação do capital, com a centralização da cultura sendo sobretudo econômica. Neste sentido, a crítica da EPC ganha relevância, com toda uma discussão sobre o valor inerente ao campo das artes, por exemplo, tornando-se importante para os estudos da Economia.
O desenvolvimento da EPC perpassou estudos que contaram com estas análises. Para o futuro, Ruy aponta, dentre outras coisas, a necessidade de rever os princípios da área e possibilitar que novos paradigmas sejam estabelecidos, com diálogo com outras ciências da Comunicação. Haveria ainda novos enfoques a serem buscados, casos da ruptura do emissor-receptor (gerando o que alguns autores apontam como “prossumidor”), a neutralidade da rede, a comunicação da rede e a pluralidade e diversidade de conteúdos. Mesmo com divergências internas, outro ponto de análise é a transformação do trabalho cultural e da comunicação, representada por modelos como o do Google. Assim como, a discussão sobre as Economias Criativas, utilizadas pelo neodesenvolvimentismo. Segundo Ruy, esta discussão vem sendo capitalizada por correntes neoclássicas, mas pode ser melhor estudada pelos pesquisadores da EPC.
Ruy entende que a EPC já representa uma teoria da comunicação e um campo epistêmico, ainda que não tenha privilégio exclusivo na área. Para ele, o desafio à vista é cristalizar os métodos de investigação desse objeto, por se tratar de um campo heterogêneo e interdisciplinar, mas sem ser eclético. Faz-se necessário, portanto, um programa de pesquisa científica que tenha como núcleo conceitual o “passo atrás” da visada marxista.