Os Mecanismos de Controle-Púbico/Social Presentes no Regulamento do Setor de Telecomunicações no Brasil: A Lei Geral de Telecomunicações e o Regimento Interno da Agênca Nacional de Telecomunicações

SAYONARA DE AMORIM GONÇALVES LEAL

Trabalho dissertativo apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Comunicação, Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília.

Orientadora: Profa. Dra. Lavina Madeira Ribeiro.

Call for paper: XIV Congresso Internacional Ibercom 2015

logo-fundo-transparentehome (1)Está aberta a chamada para publicações para XIV Congresso Ibero-americano de Comunicação 2015, que ocorrerá em São Paulo, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), entre os dias 29 de março e 2 de abril. Com o tema Comunicação, Cultura e Mídias Sociais, o evento pretende refletir sobre o processo de globalização acelerada, resultante da velocidade com que a ciência desenvolve as novas tecnologias de comunicação, fomentado também pela eficácia do controle que as agências financeiras internacionais exercem sobre a economia, vem ameaçando a riqueza da diversidade cultural do planeta.

Serão aceitos trabalhos de autoria de professores e estudantes de pós-graduação (UMA SUBMISSÃO POR AUTOR (CPF / PASSAPORTE), que deverão refletir nas Divisões Temáticas IBERCOM as respectivas ementas e, sempre que possível, o tema do Congresso. Os trabalhos inscritos deverão ser encaminhados para uma das Divisões Temáticas listadas abaixo:

DTI – 1 – EPISTEMOLOGIA, TEORIA E METODOLOGIA DA COMUNICAÇÃO
DTI – 2 – COMUNICAÇÃO,  POLÍTICA  E ECONOMIA POLÍTICA
DTI – 3 – COMUNICAÇÃO E CIDADANIA
DTI – 4 – EDUCOMUNICAÇÃO
DTI – 5 – COMUNICAÇÃO  E IDENTIDADES CULTURAIS
DTI – 6 – COMUNICAÇÃO  E CULTURA DIGITAL
DTI – 7 – DISCURSOS E ESTÉTICAS DA COMUNICAÇÃO
DTI – 8 – RECEPÇÃO E CONSUMO NA COMUNICAÇÃO
DTI – 9 – ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO  ORGANIZACIONAL
DTI – 10 – COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL
DTI – 11 – ESTUDOS DE JORNALISMO
DTI – 12 – HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO E DOS MEIOS
DTI – 13 – FOLKCOMUNICAÇÃO

Formato dos Trabalhos

a) Resumo expandido

O autor deve encaminhar um resumo expandido entre 1,5 mil a 2 mil caracteres (incluindo espaços), indicando a Divisão Temática.

Os resumos serão recebidos de 15.11.2014 a 01.02.2015 somente através da página do Congresso e serão avaliados por um Comitê Científico em relação à pertinência às linhas de trabalho das DTIs ou ao tema do congresso IBERCOM 2015.

O resumo deve obrigatoriamente conter: título; introdução; objeto; quadro teórico; metodologia; análise; resultados.

O resultado da seleção dos trabalhos aceitos será divulgado no dia 20.02.2015 na página do Congresso.

b) Texto Completo

Os autores que tiverem seus resumos aceitos deverão enviar o texto completo até 16.03.2015, para apresentação na Divisão Temática da IBERCOM (DTI) indicada, de modo que o texto possa ser incluído no e-Book a ser publicado.

O texto completo deve conter de 20 mil a 35 mil caracteres (com espaços), já incluídas as referências bibliográficas e notas de rodapé.

São obrigatórios os seguintes itens: título, resumo de até 10 linhas, cinco palavras-chave, resumo do currículo do autor em até 3 linhas (incluindo sua vinculação institucional).

O texto deve ser redigido em fonte Times New Roman, corpo 12, entrelinhamento 1,5. Citações recuadas devem ser redigidas em corpo 10, espaço simples. O tamanho total do arquivo não deve exceder 2 Mb (dois megabytes). O autor deve redigir seu texto utilizando o modelo (template) elaborado para o encontro. O modelo estará disponível para download na página do site do Congresso.

Para mais informações acesse aqui.

Industria Cultural, Información y Capitalismo

industriaculturalinformacaoecapitalismo_bannerNas últimas décadas, a globalização e a revolução das novas tecnologias marcaram um antes e um depois na forma de articulação do poder, configurando-se como uma força motriz do novo modelo de capitalismo tardio – a hipótese avançada por Marx, em que o próprio sujeito torna-se o processo de produção de capital mais valioso fixo, e onde o trabalho abstrato – hoje concebido como “intelecto geral”. Atividade criativa, neste novo contexto, ganha um novo papel estratégico, gerando valor e permitindo o desenvolvimento e sustentabilidade do capitalismo contemporâneo.

César Bolaño lida com a compreensão do papel produtivo da comunicação e seu papel fundamental na Era do Capitalismo. A partir da Economia Política da Comunicação, Bolaño propõe uma perspectiva de pesquisa capaz de transcender as fronteiras convencionais do modelo economicista, e capaz de problematizar o fenômeno da indústria cultural e da apropriação pelo sistema durante todo o ciclo do trabalho imaterial . Este trabalho nos convida a refletir sobre o novo papel dos produtores culturais e repensar a relação entre trabalho e valor, a partir de um rigor conceitual que vai abrir novos caminhos para a construção das respostas que requer nosso tempo. Com um prefácio de Francisco Sierra na edição espanhola.

Para informações da Edição em Português, acesse: Indústria Cultural, Informação e Capitalismo

Mercado Brasileiro de Televisão

mercadobrasileirodetv_bannerQuando foi lançada a primeira edição, em 1988, de Mercado Brasileiro de Televisão, do professor de Economia da UFS César Ricardo Siqueira Bolaño, o livro já nascia clássico. Resultado de sua dissertação de mestrado pela Unicamp, o primeiro trabalho de César Bolaño, inédito no Brasil e um dos primeiros publicados na América Latina, foi um marco para a criação de uma disciplina, fundada no Brasil por ele mesmo, inclusive na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde leciona, que se denominou na década de 90 de Economia da Comunicação e da Cultura.Mercado Brasileiro de Televisão volta ao cenário acadêmico em edição revista e ampliada e será relançado nesta quinta-feira, 17 de fevereiro, às 19 horas, no auditório da Reitoria da UFS.

Paralelo ao lançamento de Mercado Brasileiro de Televisão, será apresentada ao público a versão em português do Portal Eptic, rede interdisciplinar de pesquisadores de Economia Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação. A noite de lançamento será aberta com uma apresentação do livro pelo autor, seguido de um debate. Durante o coquetel, uma session com Pedrinho Mendonça e o grupo Membrana.

CO-EDIÇAÕ – A obra publicada agora em conjunto pela editora da UFS e a editora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (EDUC) mantém o aspecto original de pesquisa, atualizada até o ano de 2000. Alia a história da evolução do sistema comercial brasileiro de televisão a uma análise crítica interdisciplinar. Na primeira edição, em 1988, Bolaño já falava da TV segmentada no Brasil, processo que ganha contornos somente a partir de 1995. O desenvolvimento dessa indústria é o elemento inteiramente inédito acrescentado ao livro, que o autor chama, na terceira parte, de Fase da Multiplicidade de Oferta.

Mas não se deve confundir multiplicidade de oferta com processo de democratização dos meios de comunicação no Brasil. Muito pelo contrário, o monopólio da TV Globo continua imbatível, apesar da crise da holding que engloba uma multiplicidade de investimentos em diversos setores. Na visão do professor Valério Brittos (Unisinos), que faz o prefácio do livro, César Bolaño não se inscreve entre as posições ufanistas que vislumbram horizontes democráticos advindos diretamente da tecnologia.

A presença da televisão no capitalismo, investigação sobre o audiovisual, convergência tecnológica, concentração empresarial, além de diversos outros assuntos estão focados na obra com rigor teórico e analítico. César, que atualmente é coordenador do portal na Internet Eptic, hoje o mais importante espaço de interlocução internacional entre os pesquisadores de Comunicação, é “um intelectual de vanguarda”, nas palavras de Gilson Schwartz, que escreve a orelha. Ainda nas apresentações do livro, o professor Alain Herscovici fala da importância da obra refletindo sobre a autonomia da disciplina Economia Política da Comunicação.

César Bolaño também é autor de Indústria Cultural, Informação e Capitalismo, resultado de sua tese de doutorado pela Unicamp. Publicado pela editora Hucitec, em 2000, o livro terá uma versão em castelhano neste ano.

Laurindo Leal Filho: Mais liberdade de expressão, mais democracia

LAURINDOPor Laurindo Leal*
   
O Brasil cresce, enfrenta e supera graves crises internacionais, tira milhões de pessoas da pobreza, reduz ao mínimo o desemprego, passa a ser mais respeitado internacionalmente e, no entanto, não consegue se livrar de uma de suas principais deficiências: a ausência de regras na área da comunicação.

O país que se orgulha de estar entre as dez maiores economias do mundo é uma das raras democracias em que os meios de comunicação agem sem limites, atuando apenas segundo os interesses de quem os controla. Vozes dissonantes permanecem caladas.

Dessa forma a democracia deixa de funcionar plenamente por não contar com um de seus principais instrumentos: a ampla circulação de ideias. Para  enfrentar o problema é necessária a regulação da mídia, capaz de ampliar o número de pessoas que hoje tem o privilégio de falar com a sociedade.

De forma alguma trata-se de impor qualquer tipo de censura aos meios de comunicação como seus controladores insistem em dizer. Ao contrário, a regulação tem como objetivo romper com a censura que eles praticam quando escondem ou deturpam fatos que não lhes interessam.

O uso da palavra censura pelos que se opõem à regulação busca interditar o debate em torno do tema. Trata-se de uma palavra de fácil compreensão que carrega uma carga negativa muito grande, contrapondo-se a argumentos mais complexos mas necessários ao entendimento do que é regulação da mídia.

Inicialmente deve-se lembrar que estamos hoje numa sociedade capitalista onde impera a livre concorrência comercial e o direito à liberdade de expressão e opinião. As empresas concorrem entre si em busca de consumidores, cabendo ao Estado impedir apenas que controlem artificialmente o mercado tornando-se monopolistas ou oligopolistas. Quando isso ocorre elas ganham um poder capaz de impor os preços que quiserem na compra e venda dos seus produtos, acabando com livre a concorrência e prejudicando os consumidores.

Essa regra vale para os supermercados e deveria valer também para as empresas de comunicação. Neste caso, por trabalharem com a oferta de ideias e valores, o monopólio ou o oligopólio já são proibidos pela Constituição com o objetivo de garantir a liberdade de expressão de toda a sociedade e não apenas daqueles que controlam os meios.

Na prática, no entanto, o que vemos é o Estado evitando o monopólio na produção e venda de pastas de dentes ou de chocolates, por exemplo, mas permitindo que ele exista no setor de jornais, revistas, emissoras de rádio, de TV e internet. A regulação econômica da mídia é a forma de impedir a existência de monopólios também na área da comunicação.

No entanto a regulação pode e dever ir além dos limites econômicos estendendo suas regras para garantir o equilíbrio informativo, o respeito à privacidade e a honra das pessoas, os espaços no rádio e na TV aos movimentos sociais, a promoção da cultura nacional, a regionalização da produção artística e cultural e a proteção de crianças e adolescentes diante de programas e programações inadequadas às respectivas faixas etárias.

Concessões públicas   

Os grandes grupos empresariais do setor se constituíram ao longo da história recente do Brasil, a partir das empresas jornalísticas que começaram a se formar ainda na primeira metade do século vinte. Algumas delas como os Diários Associados em 1935 e as Organizações Globo, em 1944, obtiveram concessões do governo para operar emissoras de rádio. Posteriormente, já nos anos 1950, argumentaram que a TV, recém chegada ao país, era apenas uma extensão tecnológica do rádio, utilizando a justificativa para receberem concessões de televisão sem a necessidade de participar de qualquer concorrência. Formaram-se assim os monopólios e oligopólios da mídia.

O rádio e a televisão são concessões públicas outorgadas pelo Estado em nome da sociedade. Empresas como Globo, Record, Bandeirantes e outras não são donas dos canais. Elas apenas receberam o direito de utilizá-los durante um período limitado de tempo que é de 10 anos para o rádio e de 15 para a televisão.

As emissoras transmitem seus sons e imagens através de um espaço conhecido como espectro eletromagnético, que é público e limitado. Ou seja, está aberto a toda a sociedade, mas têm limites físicos que não podem ser ultrapassados. Por isso ocupá-lo é um bem precioso que precisa ser regulado pelo Estado para evitar privilégios.

Esse é o primeiro e mais simples tipo de regulação necessário ao Brasil. Trata-se de estabelecer regras para o funcionamento do setor audiovisual operado na forma de concessões públicas. Para tanto basta colocar em prática, através de leis específicas, aquilo que já está previsto na Constituição de 1988 onde um capítulo, o quinto, foi dedicado a Comunicação Social.

O segundo tipo de regulação deve tratar a mídia como um todo, incluindo os meios impressos. Nesse caso são atividades privadas onde qualquer pessoa pode, possuindo capital suficiente, produzir e vender jornais e revistas. Seus responsáveis têm apenas o dever de respeitar as leis gerais do comércio e as que coíbem violações éticas.

Ainda assim, como prestadores de serviço público de informação, deveriam estar submetidos a mecanismos legais capazes, por exemplo, de abrir espaços para o direito de resposta quando notícias ou comentários por eles publicados forem considerados inverídicos ou ofensivos por qualquer pessoa.

Em ambos os casos a legislação no Brasil é frágil ou inexistente. A lei que regula o rádio e a televisão é de 1962, época em que a TV ainda era em branco e preto e o video-tape a grande novidade tecnológica. Hoje, em plena era digital, encontra-se totalmente ultrapassada, com pouca possibilidade de aplicação.

Mesmo assim o pouco que poderia ser aproveitado daquela lei, regulamentada em 1963, não é respeitado. É o caso do artigo que limita em 25% da programação diária do rádio e da TV, o tempo destinado à publicidade. Sabemos que esse limite é constantemente ultrapassado por longos intervalos comerciais, merchadisings inseridos em vários tipos de programas e por canais que dedicam-se o tempo todo a vender jóias, tapetes e gado, entre outros produtos.

No caso dos jornais e revistas a Lei de Imprensa garantia aos cidadãos o direito de resposta que poderia ser acionada quando uma pessoa se sentisse atacada injustamente. A garantia está prevista na Constituição em seu artigo 5º, inciso V, que assegura “o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano moral, material ou à imagem”.

A aplicação se dava através da Lei de Imprensa que, em 2009, sob forte pressão das empresas de comunicação, foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal, tornando o inócuo o dispositivo constitucional. O presidente do tribunal na época, Carlos Ayres Britto, comemorou a decisão enaltecendo a liberdade absoluta da imprensa, como se os meios de comunicação pairassem acima dos interesses econômicos e políticos dos seus donos.

É esse um dos debates ao qual o Brasil precisa se lançar. É papel dos poderes públicos – governo, Congresso e Judiciário – apresentá-lo à sociedade, uma vez que está em jogo uma determinação constitucional ainda não cumprida. E é papel das organizações da sociedade comprometidas com o avanço da democracia cobrar essa dívida do país. O alcance da cidadania passa pelo direito à informação, só possível de ser exercido quando há respeito à diversidade de ideias e de culturas que permeiam nossa composição social. Cabe ao Estado mediar e conduzir essa mudança.   

*Laurindo Leal Filho é Professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), membro da Rede EPTIC  e colaborador do Portal EPTIC.

**Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de dezembro de 2014.