Está no ar a primeira edição de 2017 da Revista Eptic, que, dentre outras contribuições, conta com artigos que compõem o do dossiê temático “Intelectuais e esferas públicas: entre o poder e a mídia”, cuja coordenação é de professores Fábio Henrique Pereira (Universidade de Brasília) e France Aubin (Université du Québec à Trois Rivières – Canadá). A chamada para o Dossiê Temático da terceira edição de 2017 – “50 anos da televisão pública brasileira” – se encontra aberta (até o dia 05/06).
APRESENTAÇÃO (por César Bolaño e Ruy Sardinha Lopes)
Prezados Leitores, A REVISTA EPTIC deseja a todos um produtivo e combatente 2017!
Se o ano que se encerrou vai ficar marcado como aquele de um dos maiores revezes da história recente de nosso país, quando, sob o pretexto de uma crise econômica e institucional, várias conquistas e direitos foram renegados e o estado de exceção se fez a norma, o presente que se avizinha será certamente de resistência. Não obstante a turbulência na qual ainda estamos imersos, o esforço de trazer um pouco de clareza ao que estamos vivendo não cessou e não foram poucos os que têm se empenhado nessa tarefa.
Não por acaso as Comunicações foram colocadas na berlinda: o fim do Ministério das Comunicações, com sua fusão ao Ministério das Ciências, Tecnologias e Inovação, as interferências na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), as ingerências no Conselho Gestor da Internet no Brasil, a “PEC das teles” foram apenas alguns exemplos da reconfiguração do setor que o novo governo vem promovendo a passos largos. Estivemos, entretanto, bem acompanhados. A academia e as ciências, como vem demonstrando em alto e bom som a SBPC e as entidades e instituições da ciência e da educação, sofrerão sério ataque, cujas consequências se farão sentir a longo prazo.
Se a defesa do pensamento crítico e a afirmação de um espaço democrático de reflexão têm sido bandeiras constantes desta Revista, não poderia ter sido mais oportuna e escolha do tema deste Dossiê para inaugurar nossas edições de 2017: Intelectuais e esfera pública: entre o poder e a mídia, coordenado por Fábio Pereira e France Aubin. Ambos fazem parte de um seleto grupo de pesquisadores, com forte influência do pensamento de origem francófona, o que abre as portas para um importante diálogo para a EPC brasileira especialmente, que tem se dedicado ao tema, em outro diapasão, há mais de duas décadas.
O texto de apresentação do dossiê desta vez, na velha e boa tradição francesa, apresenta as linhas gerais do enfoque referido. A perspectiva da EPC brasileira que em diversas ocasiões apresentou-se nas páginas desta revista, ao longo dos anos, está presente no artigo de Bruna Tavares. A questão central, nessa linha, é a do significado, para a construção da hegemonia, da subsunção do trabalho cultural empregado pelo capital investido nas indústrias culturais e da comunicação. Nesse caso, trata-se de uma ruptura que coincide com o que Habermas chama de “mudança estrutural da esfera pública”, a qual não estava posta, salvo melhor juízo, na visão de Gramsci, por mais que este – no popular texto sobre americanismo e fordismo – tivesse apresentado os elementos centrais do contexto da ruptura, que seriam desenvolvidos, décadas depois, pelos economistas franceses da escola da regulação.
Na verdade, e é nesse ponto que temos insistido há mais de vinte anos, trata-se de um movimento muito mais amplo de subsunção do trabalho intelectual (Bolaño, 2002), que caracteriza a terceira revolução industrial, mas cujas raízes se encontram na acumulação primitiva de conhecimento (Bolaño, 2000), que se pode ler com todas as nuances nos capítulos históricos do Livro primeiro d’O Capital de Marx. O fato é que diversos temas fundamentais da EPC em geral, como o da aleatoriedade da realização dos produtos culturais, que a escola francesa do GRESEC tão bem analisou, e em especial o dos limites à subsunção do trabalho nas indústrias culturais e da comunicação devem ser generalizados para considerar as atuais transformações em todos os processos de trabalho e nas relações entre produção e consumo no capitalismo avançado do último terço do século XX até o presente.
A EPC brasileira tem procurado dialogar, nesse sentido, com diferentes grupos de pesquisadores e boa parte desse diálogo pode ser observada nas diversas temáticas dos Dossiês aqui publicados e nos Fóruns realizados pela Rede Eptic durante os Congressos da Intercom. Essa linha de diálogo certamente seguirá nos próximos anos, pois trata-se de um tema absolutamente central para a compreensão da atual reestruturação capitalista e das possibilidades transformadoras e de resistência que a nova realidade apresenta. É nesta perspectiva que esperamos este número possa contribuir para o avanço do nosso conhecimento sobre a realidade comunicacional.
Além dos artigos do dossiê, apresentados no texto introdutório de Fábio Pereira e France Aubin, a revista traz ainda o artigo de Ivan Paganotti sobre o desmonte das estruturas estatais de censura no Brasil e em Portugal e chama a atenção para o quanto a ausência, no Brasil, de marcos regulatórios da mídia e entidades especializadas levam a uma judicialização das práticas comunicativas.
A dominância financeira do processo de valorização do capital encontra na mídia trade, isto é, nas agências de notícias especializadas nos fluxos internacionais de negociações em bolsa de valores, um dispositivo adequado. O artigo de Homero de Paula Sobrinho nos oferece uma importante análise desse mecanismo de valoração. A questão da financeirizaçao, ou mais especificamente da atração de investimentos externos também está presente no artigo de Rejane Pobozon e Adriana Garcia que tomam como objeto empírico para suas análises o papel dos formadores de opinião. Ao analisarem dois artigos sobre o rebaixamento no grau de investimentos do Brasil publicados no Portal Carta Maior e no site da Revista Veja, concluem que tais articulistas acabam atuando como “reforçadores de opiniões”, rebaixando a função crítica e formativa pretendida.
A presente edição termina com as resenhas de Estado e Cinema no Brasil, de Anita Simis, agora em sua terceira edição e The Informal media economy dos pesquisadores australianos Ramon Lobato e Julian Thomas.
A todos uma boa leitura!
Confira o sumário abaixo e acesse este número no site da revista: https://seer.ufs.br/index.php/eptic/issue/view/504/showToc
Sumário
EXPEDIENTE
ruy lopes |
2-3 |
SUMÁRIO
editores da Revista |
4-5 |
APRESENTAÇÃO
Cesar Bolaño, Ruy Sardinha |
6-8 |
ARTIGOS E ENSAIOS
Homero Viana de Paula Sobrinho |
9-25 |
Ivan Paganotti |
26-43 |
Rejane de Oliveira Pozobon, Adriana Domingues Garcia |
44-59 |
DOSSIÊ TEMÁTICO
Fábio Henrique Pereira, France Aubin |
60-70 |
Christian Laval |
71-89 |
Igor Sacramento |
90-114 |
France Yelle |
115-135 |
Raymond Corriveau |
136-152 |
Heitor Costa Lima da Rocha, João Carlos Ferreira Correia, Ana Serrana Telleria |
153-169 |
Ezequiel Alexander Rivero, Juan Martin Zanotti |
170-183 |
Luc Bonneville, France Aubin |
184-202 |
Éric George |
203-225 |
Bruna de Souza Távora |
226-239 |
RESENHAS
André Carlos Moraes |
240-244 |
João Nery |
245-249 |