Debate reflete sobre os impactos da mídia e a luta dos trabalhadores

debate_baraodeitarareEntender o processo de recepção, a criação dos discursos, o papel dos meios de comunicação e os impactos desse desses três movimento no mundo do trabalho, esse é o tema que norteará debate que ocorrerá nesta quarta-feira (17), às 19h, na sede do Barão de Itararé.

O evento, que nasce da parceria do Barão de Itararé com os grupos de pesquisa Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM – UFS) e o Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), ainda conta com o apoio da União da Juventude Socialista (UJS) e do Mídia Ninja, que transmitirá o todo o evento.

Como debatedores, o Barão contará com as presenças dos pesquisadores Roseli Fígaro, professora da Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo (ECA/USP); e César Bolaño, professor de Economia da Universidade Federal de Sergipe (DEE/UFS); e do jornalista Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

A proposta da atividade é pensar a comunicação a partir da centralidade do mundo do trabalho e pelo entendimento de suas formas contemporâneas de organização. Ou seja, a ideia é realizar uma fina discussão sobre as mudanças no mundo do trabalho, os impactos das chamadas tecnologias da comunicação e da informação e o processo de recepção dos meios de comunicação, principalmente na atualidade, quando a concentração de empresas do ramo e a preponderância tecnológica são grandezas que parecem falar por si mesmas.

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A atividade ocorrerá no auditório do Barão de Itararé, localizado na Rua Rego Freitas, 454, 8a andar – República/SP. A entrada é franca e livre de inscrição. Mais informações: (11) 3159-1585 ou (11) 984429245. Confira o evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1646677812214919/.

A atividade terá transmissão ao vivo pelo site do Barão de Itararé a partir das 19h.

Anderson Santos: A estatização da exibição dos jogos de futebol

 Por Anderson Santos*, no Observatório da Imprensa

Devido aos escândalos envolvendo dirigentes do futebol mundial, graças especialmente ao recebimento de propinas para a cessão de direitos de exibição de eventos, marketing ou organização de torneios no mundo, muitos blogueiros e jornalistas passaram a crer que a Rede Globo de Televisão, maior detentora destes direitos no Brasil, possa ser afetada mais cedo ou mais tarde pelas investigações do FBI.

Remete-se ainda ao caso da multa que o Grupo Globo teve de pagar por montar um esquema financeiro para não declarar totalmente o valor referente à compra dos direitos de transmissão das edições de 2002 e 2006 da Copa do Mundo Fifa. Os quase R$ 200 milhões “sonegados” da transação viraram anos depois mais de meio bilhão de reais de multa, com direito a sumiço do processo na Receita Federal. Algo que só veio à tona graças ao blog O Cafezinho, de Miguel do Rosário, em 2013 – antes dele, Andrew Jennings, no livro Jogo Sujo, cita em determinado momento que o dinheiro pago pela Globo para o Mundial de 2002 não apareceu na conta da ISL, empresa de marketing esportivo responsável pelas marcas da Fifa e que faliu em 2001.

Aproveita-se o momento para clamar por uma estatização dos direitos de transmissão dos eventos de futebol no Brasil, somando-se ao coro de combate ao monopólio da informação, que gera um controle sobre a própria organização do futebol no Brasil – capaz de colocar jogos aos sábados às 22h por conta de um simples amistoso da seleção da CBF, como no último final de semana.

A ideia de quem defende este processo é que a TV Brasil, do complexo público-estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), deveria adquirir os direitos de exibição ao menos do Campeonato Brasileiro de Futebol, como fez a TV Pública (Canal 7) da Argentina em 2009.

Os recursos da TV estatal

Fiz a minha dissertação de mestrado sobre a constituição do que eu denominei como um “monopólio de direito de transmitir”. Lá apresento o histórico das transmissões e afirmo que o modelo pós-2011, de negociação por clube, é o pior possível para este negócio. Digo isto para afirmar que, na atual conjuntura, não seria possível à EBC adquirir estes direitos. O que deveríamos priorizar no debate é a constituição de regras mais claras e um legítimo processo concorrencial, como foi desenvolvido na Europa, após ações em órgãos de fiscalização da livre concorrência sobre este programa midiático.

Explicando. Defendi em outros momentos neste mesmo Observatório a importância da TV Brasil transmitir futebol, no caso a Série C, apesar de possíveis gastos com este produto. Para este ano, a emissora virou sublicenciada de eventos esportivos da Fifa, transmitindo no momento os Mundiais sub-20 e Feminino, além do sub-17 e do Mundial de Futebol de Areia, pelos quais teria pago US$ 250 mil à Rede Globo, que pretende transmiti-los apenas em seu canal de TV fechada. Além disso, a parceira tradicional, Band, vive uma crise econômica que já a fez evitar a Copa do Brasil do ano passado e demitir vários funcionários em 2015, o que também abriu espaço para outra emissora.

Repito o que disse há alguns anos: o futebol é um produto importante por sua capacidade de atrair público. Por mais que a audiência venha caindo, o torcedor fiel e apaixonado por seu time e/ou por este esporte seguirá acompanhando. Para uma emissora nova, caminhando para sete anos de existência, é fundamental para se fazer conhecer – afinal, quantas vezes vemos e ouvimos alguém sugerir assistir a algo nela? – e atrair público para outros programas.

Mas chegar a adquirir o Brasileirão com exclusividade, como algumas pessoas vêm defendendo, é demais para uma emissora que tem como receita anual R$ 500 milhões. Esse valor total não daria para cobrir a oferta da Rede TV! na licitação frustrada de 2011, que era de R$ 514 milhões. Para se manter como “dono” dos direitos do torneio, o Grupo Globo deve estar desembolsando quase o triplo disso por ano. Assim, mesmo considerando que um grupo de empresas “apoiadoras” viesse junto com o pacote – especialmente se os recursos das grandes estatais fossem mais aplicados na TV estatal –, poderia ser um passo muito grande para o tamanho das pernas da EBC.

A Ley de Medios argentina

Por um simples cálculo, percebemos que seria impossível hoje que a EBC comprasse esses direitos. Não pretendemos entrar aqui na discussão sobre certo receio governamental em criar uma concorrente real no mercado aberto do audiovisual, apenas destacar também que a realidade local está bem distante do que foi visto na Argentina.

A compra pelo governo veio num momento em que os clubes estavam (e ainda estão) bem piores financeiramente que os nossos, recebendo valores bem abaixo do que os pago aqui no Brasil. Era de interesses dos clubes e da Asociación del Fútbol Argentino (AFA) (sob a presidência de Júlio Grondona, que assumira a direção da entidade ainda sob ditadura militar) mudar o contrato das mãos da Torneos y Competencias (TyC).

A TyC é uma sociedade que tem o Grupo Clarín como um dos acionistas, este que se tornou um inimigo da família Kirchner apenas a partir do mandato de Cristina como presidenta – supostamente por divergências em sociedades de mídia. Apesar disso, mesmo sem os direitos de exibição, a empresa foi contratada enquanto equipe de transmissão. Foi um casamento dos interesses econômicos dos clubes com os políticos da gestão, algo a que ainda não se chegou no Brasil, ao menos não no extremo de lá.

Em 2013, publiquei um artigo em que trago o que identifiquei de leis e regulamentações sobre o futebol no Brasil, especialmente sua relação com a mídia. Ao final destaco o que mudou com a Ley de Medios argentina – esta oriunda de outro processo, com maior exigência e participação social, ainda que vindo no rastro das divergências entre os Kirchner e o Clarín.

Direitos de transmissão na Argentina

Aponto inicialmente uma questão importante no que tange à questão dos direitos de transmissão de eventos esportivos e o livre acesso à assistência:

“[…] dentre os artigos do Capítulo VII, que trata do Direito ao acesso aos conteúdos de interesse relevante, o Artigo 77 garante o acesso universal, através dos serviços de comunicação audiovisual, dentre outros, ‘aos acontecimentos desportivos, de encontros futebolísticos ou outro gênero ou especialidade’ […]. A definição dos eventos desportivos na lei é para evitar que se tenha que pagar para ver a transmissão de jogos de futebol, forma de entretenimento de bastante relevância” (SANTOS, 2013, p. 45).

Uma grande questão é garantir, como em alguns momentos não houve no Brasil, que torneios importantes tenham transmissão em TV aberta. Aí sim, se não houver interesse da emissora que detém os direitos, que esta exibição possa ser feita por quem queira, não prejudicando o público. Vale lembrar que muitos eventos esportivos e programas midiáticos são adquiridos simplesmente para tirá-los das mãos de concorrentes – foi com esse intuito que a Globo tirou os torneios UEFA das mãos da Record, transmitindo nos primeiros anos apenas a partir das semifinais e só a UEFA Champions League.

A mudança atende ao outro ponto que destaco:

“Já o Artigo 80 trata da cessão e do acesso à transmissão. O exercício de direitos exclusivos de emissão deve ser justo, razoável e não discriminatório, de forma que o direito ao acesso universal gratuito seja garantido e que não se afete a estabilidade financeira e a independência dos clubes” (SANTOS, 2013, p. 46).

Aqui, sim, há um ponto discutível para o caso brasileiro: até que ponto este modelo de negociação dos recursos do broadcasting não tornaram os clubes dependentes do grupo comunicacional que os adquire? O que gera outra questão, mais difícil de responder: Como descobrir de forma jurídica se a independência de uma associação/clube, garantida pela Constituição, está sendo ferida por outra empresa?

Para finalizar, uma problemática ainda mais importante, que infelizmente mostra certo desconhecimento sobre o caso argentino. Lembro que os jogos do Campeonato Argentino não eram transmitidos em TV aberta – apenas um resumo dos gols após o final da rodada, ficando as partidas restritas à TV fechada. A TV Pública passou a transmitir o torneio em TV aberta, inicialmente todas as partidas, mas o sinal poderia e pode ser retransmitido por outras emissoras, desde que paguem uma taxa de sublicenciamento proporcional à sua audiência. É importante destacar que lá os direitos não são exclusivos, pois isso só poderia gerar uma troca de dependência por outra sobre o acesso possível ao telespectador.

Os cuidados a serem tidos com a proposta

De problema mais agravante, além da dependência financeira de uma administração quase sempre em crise – devido às práticas neoliberais que seguiram a partir da ditadura militar –, é que as outras emissoras são obrigadas a transmitir conforme o que é repassado, com todas as propagandas se referindo a ações do governo central. Quer dizer, pode-se pagar bem menos para retransmitir, mas é impossível vender os espaços de merchandising internos, o que freia as possibilidades de as concorrentes adquirirem recursos com o programa.

Numa comparação simples, mas “oposta” politicamente à EBC, pensemos que a TV Cultura, num arroubo surpreendente de investimento do PSDB em algo hoje misto, mas com grande contribuição do Estado, resolvesse tirar da Globo os direitos do Campeonato Paulista – que estarão em discussão em breve, pois o acordo acabou em 2015 – e os usasse para divulgar apenas ações do governo Alckmin, suposto futuro candidato a presidente da República pelo partido. Será que a opinião pela estatização seria a mesma? Provavelmente, como ocorre na Argentina, teríamos mais um exemplo de utilização do futebol como instrumento político-eleitoral.

Vale lembrar que a Sabesp, empresa responsável pelo esgotamento sanitário e distribuição de água – esta não coincidentemente em crise –, além de se tornar mista nos governos do PSDB, serviu como instrumento de propaganda antes de o então governador José Serra entrar na candidatura a presidente da República em 2010, com publicidade nacional especialmente para eventos esportivos mostrados no Esporte Espetacular. Quer dizer, não seria impossível a suposição comentada no parágrafo anterior.

Assim, necessitamos ter muito cuidado no que propomos como algo voltado aos interesses da população para que isso não pareça revanchismo. Nas condições dadas há questões muito mais simples a questionar, especialmente num país em que o mercado de comunicação é praticado quase que sem qualquer regulação. Uma delas é o fortalecimento de um grupo comunicacional efetivamente público, que não mude de acordo com a gestão estatal, algo que pode alterar o perfil do que é oferecido à população.

Referências bibliográficas

SANTOS, Anderson David Gomes dos. A consolidação de um monopólio de decisões: a Rede Globo e a transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol. 271 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, São Leopoldo, RS, 2013b.

SANTOS, Anderson David Gomes dos. Políticas públicas para transmissão de esportes: análise de dispositivos legais sobre o desporto e a comunicação. Revista Brasileira de Políticas de Comunicação, Brasília, nº 4, p. 35-49, jul.-dez. 2013.

* Anderson David Gomes dos Santos é professor da Universidade Federal de Alagoas, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação.

 

Comunicação e Trabalho em debate

debatebarao_comunicacaoetrabalho_pqNo próximo dia 17 de junho, o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé SP​ realizará amplo debate sobre comunicação e o mundo do trabalho. Como convidados, os pesquisadores Roseli Fígaro, professora da Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo (ECA/USP); César Bolaño, professor de Economia da Universidade Federal de Sergipe (DEE/UFS); e Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. 

A proposta, que nasce da parceria do Barão de Itararé com os grupos de pesquisa Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM – UFS)​ e o  Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho​ (CPCT), tem como objetivo refletir sobre o mundo do trabalho e sua relação com a comunicação, especialmente, com os impactos das chamadas novas tecnologias.

A atividade ocorrerá no auditório do Barão de Itararé, localizado na Rua Rego Freitas, 454, 8a andar – República/SP. A entrada é franca e livre de inscrição.

Acesso o evento no Facebook

Mais informações: (11) 3159-1585 ou (11) 984429245.

Call for paper: Congresso Internacional da ULEPICC Federação 2015

ulepiccicomAté o próximo dia 15 de junho está aberta a chamada para envio de resumos para o VIII Encuentro Internacional de Investigadores y Estudiosos de la Información y la Comunicación (ICOM 2015) e o IX Congreso Internacional Unión Latina de la Economía Política de la Información, la Comunicación y la Cultura (ULEPICC 2015) que acontecerá de 7 a 11 de dezembro de 2015, no Palacio de Convenciones de La Habana, Cuba.

Veja aqui a convocatória.

Nova edição da Revista Eptic Online já está no ar

CAPA (17.2)O presente número, com o dossiê Perspectivas e desafios para as políticas de regulação da mídia, ao reunir um conjunto de pesquisadores do Brasil e do exterior, pretende, desta forma, mais uma vez, pôr na ordem do dia tal discussão e ressaltar a importante contribuição que a academia tem a oferecer na construção de uma sociedade democrática e inclusiva.

A Revista traz ainda nas seções Artigos e Ensaios e Investigação um conjunto de reflexões e estudos sobre temas fundamentais ao campo da comunicação e da cultura – da economia da cultura às agências de notícias – e a resenha do livro de autoria de Marcos Dantas, “Comunicação, Desenvolvimento e Democracia”, enfeixando um outro aspecto importante desse debate: a eleição de um modelo estratégico de mídia capaz de promover o desenvolvimento do pais

A revista também está aceitando colaborações para publicação. Para mais informações e leitura da revista, acesse o site da publicação.

Anatel vai leiloar sobras da 2,6 ghz e 1,8 ghz em São Paulo até Outubro

anatel_01Até outubro, a Anatel pretende lançar o leilão para as sobras de frequências de 2,5 GHz, faixa que foi utilizada para a implantação do 4G no país, adotando uma modelagem de lotes por cidade que permita a participação também de empresas de menor porte, como os provedores regionais de acesso à internet e serviços de telecom — as licenças de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) já somam 2138. Este mesmo leilão vai colocar à venda a faixa de 1,8 GHz na cidade de São Paulo, faixa que foi retomada pela Anatel da Unicel que não cumpriu as obrigações de cobertura estabelecidas no leilão.
 
Para dirigentes da agência, este leilão vai abrir mais um espaço para o avanço da banda larga no país. Entre as capitais, três — São Paulo, Rio de Janeiro e Recife — têm 35 MHz livres em TDD (Time-division duplexing) na faixa de 2,5 MHz. Elas serão as mais disputadas e estão no alvo das operadoras de banda larga via rádio em TDD, segmento onde operam Sky e On Telecom. Ambas aproveitam as frequências licenciadas e usam o LTE para entregar conexão fixa. A Sky tem cobertura do tipo em todas as regiões do Brasil, enquanto a On Telecom atua apenas no interior paulista.
 
Mas o entendimento da Anatel é que o interior do país poderá surpreender, se a modelagem do leilão for atrativa o suficiente para os provedores regionais que ainda operam por rádio em frequências não licenciadas e precisam de espectro licenciado para oferecer um serviço de melhor qualidade e de maior segurança.
 
A modelagem ainda está em estudos, tanto no que diz respeito ao tamanho dos lotes como ao preço das licenças, mas dirigente da Anatel antecipa que a abrangência geográfica será mesmo a cidade. Esta é uma velha reivindicação dos provedores regionais, que, como segmento, se fortaleceram nos últimos anos e já respondem por 2 milhões dos 24,4 milhões de acessos de banda larga fixa no país.
 
Fonte: Tele.síntese

ENECULT acontece em agosto de 2015

site1O Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – CULT da Universidade Federal da Bahia – UFBA realiza de 11 a 14 de agosto de 2015, em Salvador, Bahia, o XI Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – ENECULT. Seguindo sua importante trajetória de promoção do diálogo sobre cultura entre diferentes áreas do conhecimento, a décima primeira edição do evento apresenta inovações em sua programação. Importantes nomes do cenário cultural brasileiro e internacional já estão confirmados.

O ENECULT é reconhecido como o maior encontro de estudos em cultura do país. Este ano, com o objetivo de qualificar o espaço de interação entre os pesquisadores, estudantes, professores e profissionais que participam do evento, a programação traz novidades. Além das tradicionais apresentações de artigos, também serão realizados simpósios, minicursos, relatos de experiências e encontro de redes.

Após 15 anos do decreto federal (3.551/2000), que criou o registro dos bens culturais de natureza imaterial, “os dilemas do patrimônio cultural imaterial” serão discutidos em um dos simpósios da programação do ENECULT. Temas que estão na pauta do dia da opinião pública como “os desafios da mulher contemporânea” e “a cultura política no Brasil hoje” também têm lugar de debate no encontro. Outras temáticas, ainda pouco exploradas, mas não menos importantes, não foram esquecidas, como a acessibilidade cultural, a relação entre artes e cultura e a atuação das universidades nas políticas culturais.

Os minicursos e relatos de experiências ampliam ainda mais o leque de opções da programação do XI ENECULT.  Até o momento estão previstos seis minicursos que versarão sobre: os 10 anos da Convenção da Diversidade Cultural, economia criativa, culturas dos sertões, consumo e práticas culturais e cultura e comunicação. Os relatos de experiência, por sua vez, trazem para dentro de um evento majoritariamente acadêmico, vivências de agentes culturais como Monstrx Erratik, Travesti Reflexiva, Mercado Iaô, III Bienal da Bahia,  Rede Latinoamericana de Gestão Cultural e a Organização dos Estados Ibero-Americanos.

Autoridades importantes no campo cultural já agendaram sua participação no XI ENECULT: o Ministro da Cultura, Juca Ferreira; o Secretário Geral da OEI, Paulo Speller; a presidente do IPHAN, Jurema Machado; o presidente da Funarte, Francisco Bosco, dentre outros. Alguns pesquisadores de referência também confirmaram presença: Helena Katz (PUC-SP), Flávia Biroli (UNB), Isaura Botelho (SP), Evelina Dagnino (UNICAMP), Patrícia Dornelles (UFRJ), José Márcio Barros (PUC-Minas), Cláudia Leitão (UECE) e muitos outros. São aguardados cerca de 700 participantes do Brasil e América Latina para acompanhar os quatro dias de encontro.

As inscrições para o XI ENECULT ficam abertas até o dia 24 de julho de 2015. Qualquer pessoa pode participar, seja estudante de graduação ou pós-graduação, pesquisador, professor ou profissional. Mais informações estão disponíveis no site www.cult.ufba.br/enecult .

Menina dos olhos dos Civita, Revista Veja sofre com a crise da Abril

A menina dos olhos de Roberto Civita não conseguiu escapar da crise do Grupo Abril. Com as mudanças no mercado editorial, a blindagem da semanária perdeu vigor e incorreu em e cortes importantes, como o anunciado semanas atrás, com várias demissões e o fechamento das Vejinhas BH e DF.

Informações publicadas no Portal dos Jornalistas indicam que, nos últimos dias, discretamente a revista negociou também as saídas de importantes profissionais que lastreavam um núcleos importantes da semanária.

Estima-se que o corte total, ao longo das últimas semanas, atingiu 32 pessoas em São Paulo e 49 em todo o Brasil.

A revista também negociou uma redução da ordem de 10% no segmento colunistas.

Fica o alerta.

Pelo andar da carrugem e pelo avanço das redes e suas potencialidade, ventila-se que a provável estratégia da Revista será investir cada vez mais em vídeo, impulsionando a TVeja, que, como diz um dos profissionais da casa, “está bombando”.

A mídia alternativa precisa ficar atenta aos caminhos que a revista mais duvidosa do país pretende tomar.

Lalo Leal: Comunicação eletrônica padronizada e conservadora rema contra o Brasil

laloleal_eptic_obscom_entrevista“O Brasil possui uma comunicação eletrônica padronizada nos moldes mais atrasados, mais conservadores e sempre com propostas antipopulares. A Rede Globo não está aí por acaso, ela ocupou um espaço deixado de lado pelo Estado brasileiro desde a formação desse mercado”, avaliou o pesquisador Laurindo Leal Filho, ao fazer balanço dos atos realizados contra a Rede Globo neste último dia 26 de abril. Segundo ele, podemos definir que a comunicação eletrônica da forma que se consolidou rema contra o Brasil.

“A Rede Globo ocupou um espaço e até hoje nenhum governo brasileiro teve coragem de reorganizar esse setor, que é público. Esse movimento, por exemplo, poderia abrir espaço para fortalecer e fomentar a comunicação pública”, destacou.

Proposta alternativa

Lalo Leal, que comanda o programa VerTv, exibido pela TV Brasil, destaca duas vias possíveis para se democratizar a comunicação no país. “Existem dois caminhos principais. O primeiro é a regulação, ou seja, o Estado abrir espaço para que outras vozes possam falar também. O segundo é fortalecendo a comunicação pública, precisamos ter uma comunicação de conteúdo alternativo ao que até então foi apresentado“, sinaliza.


Ele ainda destacou um terceira via. “Também precisamos ter em mente a importância de se fortalecer os movimentos alternativos nas redes. A internet é um espaço imenso e o movimento de blogueiros tem sua presença. Esse movimento carece de mais atenção por parte do Estado”, defendeu.

Congresso conservador

Ao refletir sobre as contradições e lutas no seio do Congresso Nacional mais conservador desde 1964, Laurindo Leal ponderou que “o país já viveu momentos melhores que o atual. Infelizmente, nesse Congresso atual dificilmente seria aprovada uma lei que regulasse o sistema de comunicação. Em outros momentos também, mas no atual isso ainda fica mais difícil”.

Para ele, era difícil e ficou pior, porque no Congresso se combinam vários interesses empresariais. Primeiro, os interesses empresariais da própria mídia, são inúmeros os parlamentares que são proprietários de concessões. Isso sem falar dos interesses dos latifundiários e das organizações religiosas, que acabam se combinando com os primeiros.

“Colocar no Congresso Nacional, hoje, uma lei de meios é algo muito difícil. Porém, são dificuldades que nos tornam mais fortes. Penso que a Campanha para Expressar a Liberdade é importante, pois além de propor um projeto de lei de iniciativa popular, ela promove o debate em torno do tema. Só isso, já vale a luta e mobilização em torno dessa importante bandeira”, explicou Lalo durante a entrevista.

Fonte: Rádio Vermelho

Luciano Martins: A imprensa e a terceira via

Por Luciano Martins Costa*, no Observatório da Imprensajulia1

O tema é tratado nesta quinta-feira (21/5) por dois destacados colunistas. Um deles, Merval Pereira, escreve no Globo. O outro, José Roberto de Toledo, publica no Estado de S. Paulo. Embora este observador não costume citar nomes, mesmo quando analisa textos específicos, a circunstância aponta a conveniência de identificar os autores, porque o assunto provavelmente irá dominar a crônica política nos próximos meses, talvez nos três anos que nos separam da campanha presidencial de 2018.

O pano de fundo é a operação de guerra conduzida pela imprensa hegemônica, com o propósito de isolar e fragilizar a atual presidente da República e, ao mesmo tempo, atacar ininterruptamente a reputação do ex-presidente Lula da Silva, que é tido como provável candidato ao Planalto na próxima eleição. O grande destaque dado a sucessivas manifestações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a última delas dominando o programa de seu partido, o PSDB, na televisão, é parte desse processo.

Como já se afirmou neste espaço (ver aqui), a análise diária do noticiário político e sua extensão lógica – as escolhas da imprensa entre os fatos da economia – aponta claramente o propósito de manter sitiada a presidente Dilma Rousseff, nem que para isso seja necessário dar apoio ao senador Renan Calheiros e ao deputado Eduardo Cunha, dirigentes do Congresso Nacional visados pela Operação Lava-Jato. Mas essa pressão é controlada no limite da governabilidade, porque a mídia tradicional não pode contrariar o chamado setor produtivo, que tem interesse no plano de ajuste proposto pela presidente.

O nome do jogo é manipulação, mas esse é um aspecto tão explícito que sua observação não representa um desafio instigante: o leitor crítico enxerga isso com a simples visão das manchetes. Para entender metade da história, basta ler o editorial publicado pelo Estado de S. Paulo na quarta-feira (20/5), intitulado “O pesadelo de Lula” (ver aqui).

O texto pode ser considerado um clássico do lacerdismo, que passou a marcar a linguagem da imprensa brasileira a partir da ascensão dos “pitbulls” ao panteão do jornalismo. Escrita em chulo – a novilíngua que caracteriza o jornalismo predominante no Brasil -, e sem a verve que marcava as diatribes de Carlos Lacerda, essa  declaração explícita de engajamento partidário funciona como ancoragem para o discurso do veterano líder tucano na TV.

Tecendo a rede

Um filósofo diria que ambos – o editorialista, em nome do jornal, e o político-sociólogo, em nome da fração da sociedade representada por seu partido – personificam o cinismo em estado clássico, ou seja, a alienação em relação à sociedade como um todo, ou a construção de um mundo à parte da política. Esse mundo particular é regido por uma ética muito conveniente, na qual os malfeitos do poder têm um calendário especial: segundo esse calendário, a corrupção nasceu em 2003, quando Lula da Silva assumiu a Presidência da República em primeiro mandato.

Voltando aos dois colunistas citados, por que seus textos marcam de maneira tão clara o próximo episódio na disputa partidária que estimula radicalismos e divide de maneira tão visceral a sociedade brasileira? Porque os dois avançam na observação do cenário retratado pela imprensa hegemônica e apontam para um horizonte em que se torna propício o surgimento de uma terceira opção aos dois polos em torno dos quais se adensam as forças políticas. Na opinião dos dois autores, PT e PSDB correm o risco de morrer abraçados em 2018.

Tanto Pereira quanto Toledo se referem ao fato de que, ao se engalfinhar com o PT, o PSDB perde apoio de muitos de seus eleitores, porque os correligionários tradicionais dos tucanos “não se reconhecem mais no radicalismo assumido”, segundo Merval Pereira. Pode-se acrescentar que, alinhando-se com as forças mais reacionárias do espectro político, o PSDB se desfigura aos olhos do cidadão politicamente educado que apoia a socialdemocracia. Já o jornalista do Estado de S. Paulo pondera que 66% dos brasileiros não têm preferência partidária – apenas 14% votam firmemente no PT, e o PSDB tem o suporte incondicional de apenas 6% dos eleitores.

Os dois colunistas enxergam um cenário favorável ao surgimento de uma “terceira via”. Merval Pereira vislumbra uma candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e cita, mais à direita, o senador Ronaldo Caiado e o deputado Jair Bolsonaro. José Roberto de Toledo afirma que “há espaço de sobra para quem souber contar uma história nova e convincente”. Nenhum dos dois se lembrou da ex-senadora Marina Silva, que tece sua rede longe do barulho da mídia.

*Luciano Martins Costa é jornalista.