Fonte: Associação Brasileira das Editoras Universitárias
A mais recente entrevista para a coluna A Voz do Autor fala sobre cinema. Conversamos com a professora Anita Simis, autora, dentre outras obras, de “Estado e cinema no Brasil”, publicado pela Editora Unesp. Ela é bacharel em Ciências Sociais pela USP e possui doutorado em Ciência Política pela mesma universidade, além de Livre-Docência em Ciências Sociais pela Unesp. Na entrevista a autora comenta sobre grandes conflitos no fomento à arte no Brasil, não se restringindo somente ao cinema, comentando ainda sobre a disparidade de público dos filmes blockbuster e aqueles considerados “de arte”.
1. No Brasil, o fomento à arte esteve atrelado ao incentivo do Estado. Em seu mais recente trabalho, “Estado e Cinema no Brasil”, esta relação fica evidenciada ao longo da história do país. Assim, você acredita que, após a redemocratização, o sistema de financiamento que temos hoje é o mais adequado para a produção cinematográfica brasileira?
Eu considero o sistema imperfeito, ao menos no caso do cinema. Creio que há muitas formas de tornar o financiamento um incentivo para que o cinema seja auto-sustentável e atualmente parece que ocorre o inverso. Claro que há um cinema experimental que não irá alcançar nunca um público massivo que reponha o que foi investido. Mas há um cinema que pode e deve ser pago com o público que ele alcançar. E também é possível criar condições para que as produtoras possam de um lado produzir para o grande público e assumir riscos e de outro ter uma produção voltada para atender a educação e ter subsídios para isso, mantendo a atividade.
2. O brasileiro parece ter como crença que o cinema nacional não tem qualidade. No entanto, filmes comerciais produzidos pela Globo geralmente têm altas bilheterias, enquanto películas consideradas “de arte” só encontram mais espaço em festivais. Acredita que há uma má vontade do público ou esse raciocínio segue uma tendência mundial, em que os blockbusters são realizados para apaziguar multidões?
Esse é um ponto que venho discutindo, pois é preciso investir na formação do público. O montante de recursos que a Ancine dispõe não é investido, ao meu ver, numa política para tornar o cinema auto-sustentável, mas sim dependente dos seus recursos. E a formação de um público necessita não apenas de uma política de longo prazo e com grandes investimentos, como deveria ser em conjunto com outros ministérios. Os festivais são apenas uma válvula de escape: para o público que aprecia filmes menos massivos e para o cineasta que tem uma formação cinéfila.
3. Por fim, qual você acredita que tenha sido o marco que deu novo impulso à produção cinematográfica nacional a partir do início da década de 90?
O impulso foi dado pela injeção de recursos públicos cada vez maiores. Com a Condecine, que agora está sendo contestada pelas teles, a soma dos recursos de tudo que foi disponibilizado para o cinema chegou em 2012 a R$ 899.479.832,79!