Ebook trata da linguagem, gêneros e modelos de negócio do jornalismo móvel

O LabCom.IFP, da Universidade Beira do Interior (UBI), de Portugal, acaba de disponibilizar para download o ebook “Jornalismo móvel: linguagem, gêneros e modelos de negócio do jornalismo móvel”. A obra segue o objetivo do laboratório em discutir o papel dos dispositivos móveis no jornalismo do século XXI.

Sinopse

Depois dos livros “Notícias e Mobilidade: O jornalismo na era dos dispositivos móveis”, de 2013, e “Jornalismo para Dispositivos Móveis: Produção, distribuição e consumo”, de 2015, este “Jornalismo Móvel: Linguagem, gêneros e modelos de negócio” é mais um contributo do LabCom.IFP para a discussão do papel dos dispositivos móveis no jornalismo do século XXI.

Neste período de quatro anos se continuou a verificar um crescimento nas vendas de dispositivos móveis com o consequente aumento no número de acessos a conteúdos online. Esperava-se que o consumo massificado de notícias online tivesse repercussões nas receitas dos meios de comunicação e no surgimento de novos formatos e linguagens adaptadas a uma recepção tecnologicamente avançada, mas nada disso aconteceu. Continua a ocorrer uma divergência crescente entre o potencial dos dispositivos de recepção e a qualidade dos conteúdos produzidos pelos meios de comunicação, o que frustra as expectativas dos consumidores e limita a geração de receitas.

Face a este cenário, a investigação científica tem a obrigação de discutir o problema e este livro é mais contributo para essa discussão.

Baixe o arquivo em: http://www.labcom-ifp.ubi.pt/livro/289

Sumário

Introdução – 11

Parte I – Dispositivos móveis, modelos de negócio e jornalismo de proximidade – 17

Aplicativos autóctones em franquias jornalísticas: a possível transformação de rotinas produtivas na convergência com meios digitais – 19
Vivian Belochio, Eugenia Barichello e Tanise Arruda

Mobilidade como fator diferencial dos modelos de negócios em jornalismo: O caso do NYTimes – 41
Isadora Ortiz de Camargo

Dispositivos móveis na construção da notícia: a experiência do portal regional NE10 – 61
Ivo Henrique Dantas e Heitor Costa Lima da Rocha

Jornalistas da imprensa regional em transição para o mobile – 83
Pedro Jerónimo

Los cibermedios hiperlocales en el móvil. Análisis comparativo de seis APPs españolas: grandes redes de medios frente a espacios de comunicación ciudadana – 107
María Cruz Negreira Rey y Xosé López García

Parte II – Dispositivos móveis e Apps – 133

Jornalismo no feed de notícias: a relação entre jornalismo e redes sociais através do Instant Articles do Facebook – 135
Mariana Guedes Conde

Medialabs Españoles. Un análisis de sus formatos narrativos – 153
Elpidio del Campo Cañizares y Teresa Zaragoza Fuster

O fato jornalístico narrado por meio de notificações: um olhar sobre a aplicação dos critérios de noticiabilidade na produção das pushed news – 175
Diógenes D’Arce Cardoso de Luna e Alexandra Fante

Mobilidade e jornalismo digital contemporâneo: Fases do jornalismo móvel ubíquo e suas características – 197
Eduardo Campos Pellanda, André Fagundes Pase, Ana Cecília Bisso Nunes, Melissa Streck, Marcelo Crispim Fontoura, Daniele Ramos de Souza, Isabella Ferreira e Mércio Pereira

O WhatsApp aliado da notícia: a interatividade no jornal brasileiro Extra – 219
Patrícia Pivoto Specht

WhatsApp e a publicização de notícias na sociedade midiatizada – 243
Carlos A. Zanotti e Cyntia Andretta

Parte III – Novas linguagens e novos formatos jornalísticos – 263

A realidade virtual como recurso imersivo no jornalismo digital móvel – 265
Alciane Baccin, Maíra Evangelista de Sousa e Marlise Brenol

Sucesso novo em formato “antigo”: periódicos matutinos para tablet e o caso do La Presse+ – 289
Marina Lisboa Empinotti e Rita de Cássia Romeiro Paulino

Análise às apps do jornal Público: a construção narrativa dos seus conteúdos – 319
Nuno Ricardo Fernandes

Periodismo inmersivo en dispositivos móviles: primer acercamiento a los proyectos Fukushima, vidas contaminadas (El País) y The Displaced (The New York Times) desde la perspectiva de la usabilidad – 345
Lucía Jiménez Iglesias, Adriana Paíno Ambrosio, Mª Isabel Rodríguez Fidalgo e Inês de Oliveira Castilho e Albuquerque Amaral 

Entre títulos e algoritmos: novas práticas editoriais de notícias móveis em jornais brasileiros – 369
Telma Sueli Pinto Johnson

Na palma da mão: reflexões sobre os newsgames em plataformas móveis com base na reportagem multimídia Di Soli a Soli – 389
Carlos Marciano, Kérley Winques, Mauren Del Claro Rigo e Rita de Cássia Romeiro Paulino 

Jornalismo ubíquo e dispositivos móveis: uma análise do produto do jornal The Guardian – 411
Stefanie Carlan da Silveira

Parte IV – O audiovisual nos dispositivos móveis – 435

Websérie documental: o (web) jornalismo e as ferramentas digitais na construção da narrativa audiovisual interativa na internet – 437
José Jullian Gomes de Souza e Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira

A receção de conteúdos informativos televisivos através de dispositivos móveis: as appsda RTPSIC e TVI – 459
Carlos Canelas

Os dispositivos móveis no jornalismo audiovisual: uma análise da apropriação dos smartphones pelas emissoras de televisão do Piauí (Brasil) – 481
Jacqueline Lima Dourado e Juliana Fernandes Teixeira 

La infografía periodística en la cuarta pantalla: Análisis de contenido y diseño de la información – 499
Begoña Ivars Nicolás e Montserrat Jurado Martín 

Proposta de Inventário das Máquinas de Visibilidade: As modificações do telejornalismo pelo uso das câmeras ubíquas – 511
Maura Oliveira Martins

Narrativa radiofónica y dispositivos móviles. ¿Reutilización o creación de nuevos contenidos? El caso de Podium Podcast – 527
Miriam Rodríguez-Pallares

Transmedia Journalism within Mobile Devices – 547
Ana Serrano Tellería

Pós-Verdade e a Economia Política das Notícias Falsas

*Por Carlos Figueiredo

O termo pós-verdade (post-truth) foi considerado a palavra do ano de 2017 pelo dicionário Oxford. A prevalência de boatos e notícias falsas nas redes sociais, mostrando toda sua capacidade de influenciar as eleições estadunidenses e o plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia, fez com que a palavra ganhasse relevância no debate público. Os meios de comunicação tradicionais parecem impotentes diante de uma indústria especializada em fabricar boatos. Aquilo que é publicado por sites especializados em mentir parece ter um apelo tão forte perante seu público, que paradoxalmente se considera informado e livre das amarras da grande mídia, a ponto de questionarmos o próprio poder atual da imprensa e seu impacto no debate público.

Embora o termo pós-verdade remonte a pelo menos 1992, quando foi usado pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich, ele passa a ser empregado com maior constância a partir da década de 2000, quando é publicado o livro The post-truth era: Dishonesty and deception in contemporary life, de autoria de Ralph Keyes, mais precisamente no ano de 2004. Na era da pós-verdade, de acordo com o autor, os limites entre verdade e mentiras são tênues, a ponto de termos dificuldades de diferenciar honestidade e desonestidade, ficção e não-ficção. Para Keyes, iludir os outros teria tornado-se um desafio, um jogo e ultimamente um hábito. Essa tendência teria surgido, segundo o autor, devido à tendência pós-moderna de relativizar a verdade entre outros desdobramentos. Entretanto, entender o significado de determinado termo da moda mostra-nos apenas a aparência do fenômeno, revelando muito pouco sobre sua essência.

A força das notícias falsas, do nosso ponto de vista, pode ser elucidada a partir das contribuições de duas disciplinas: a Psicologia Social e a Economia Política, mais especificamente a Economia Política da Comunicação (EPC). A Psicologia Social ajuda-nos a entender o poder emocional exercido por boatos no debate público enquanto a Economia Política da Comunicação apresenta-se como ferramenta para entendermos a razão pela qual as redes sociais tornam o ofício de espalhar boatos tão lucrativo. Para entendermos a atratividade dos boatos, portanto, é necessário trazer para o debate um termo tão presente no nosso cotidiano quanto ignorado academicamente: os boatos.

Os boatos são encarados como parte da instância da irracionalidade, mas para Nicholas Difonzo “os boatos são uma atividade de racionalização compartilhada”,e florescem onde há interação, como no caso das Redes Sociais. Acreditar em pessoas próximas, sentimentalmente ou ideologicamente, renova laços sociais, fortalece convicções preexistentes e dificilmente resulta em um desastre óbvio para quem crê, ainda que sua convicção esteja absolutamente equivocada. Boatos são, essencialmente atos de comunicação, ou seja, são tópicos de conversação considerados importantes que circulam entre as pessoas, sendo grande a probabilidade de tratarem de temas considerados cruciais, urgentes e imperativos. Além disso, o surgimento de tais rumores se dá em situações ambíguas, que representam uma ameaça real ou potencial, oferecendo um caminho para que os indivíduos racionalizem e encontrem sentido em situações confusas. Por último, mas não menos importante, os boatos são informações não verificadas. Em um momento de mudanças sociais extremas e disruptivas, são muito os temores dos indivíduos, e inimigos e preconceitos são criados para dar conta dos desafios. Os boatos e a propaganda possuem essa capacidade, embora não se confundam conceitualmente, ambos possuem o poder de oferecer explicações fáceis para um mundo confuso, e podem caminhar de mãos dadas.

A força dos boatos está no fato de que a existência de um motivo para nossos atos é reconfortante, e os rumores oferecem-nos uma explicação pronta, auxiliando os indivíduos a neutralizarem ameaças psicológicas à sua autoimagem, incluindo ideias de cunho moral, político ou religioso defendidas por esses indivíduos. De acordo com Difonzo, “talvez a principal razão pela qual as pessoas acreditam em boatos seja porque eles estão em consonância com os sentimentos, ideias, atitudes, estereótipos, preconceitos, opiniões ou conduta dos ouvintes”. Os boatos passam a servir, então, como a legitimação cognitiva para o preconceito contra grupos políticos rivais, justificando assim a adoção de determinadas tendências políticas. A grande imprensa, apesar de sua função de construir hegemonia, por possuir profissionais cuja função é averiguar e checar fatos; sempre serviu de antídoto para fazer com que determinados boatos fossem desacreditados, mas algo parece ter mudado nos últimos anos.

As tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm sido o grande motor da reestruturação do sistema capitalista iniciado na década de 70, resultando no fim do regime de acumulação fordista, e da destruição criativa do sistema, apresentando um forte caráter disruptivo em relação às antigas tecnologias. A Indústria Cultural, em seus diferentes setores e lógicas correspondentes, vêm sofrendo o impacto das TIC desde a década passada com o declínio da circulação de jornais e revistas e, mais recentemente, com a adoção das segundas telas, levando a um declínio da atenção por parte dos espectadores. Ou seja, a mercadoria audiência, nada mais que a atenção dos receptores vendida pelos grandes meios de comunicação aos anunciantes, vem sofrendo um processo brutal de desvalorização nos meios de comunicação tradicionais.

Esse processo tem relação com a procura por rentabilidade para a internet, que foi a grande causa para o estouro da bolha da bolsa Nasdaq em 2000. Havia uma grande euforia nos mercados, em fins da década de 1990, devido à promessa de alta rentabilidade das empresas digitais, levando à abertura indiscriminada de empresas de tecnologia e à correspondente especulação. Entretanto, não existia lucratividade real que justificasse os altos investimentos naquele setor a não ser a busca por lucros exorbitantes por parte dos capitais especulativos. No campo das Indústrias Culturais, a saída para o impasse da economia digital seria, então, a venda de anúncios. Entretanto, a venda de anúncios nas indústrias culturais apresentava a vantagem de fazer parte de uma programação ancorada nos hábitos cotidianos dos receptores, principalmente no rádio e na televisão, enquanto na Internet a venda de anúncios tinha um caráter disruptivo na experiência do usuário, que de repente era confrontado com popups que surgiam em profusão quando os indivíduos ingressavam em determinados sítios da Internet.

Apesar de o modelo de venda de anúncios ter tido origem nos meios de comunicação tradicionais, a saída técnica para o impasse da venda de anúncios e, por conseguinte, da rentabilidade não veio das grandes empresas de comunicação, mas de empresas cujos produtos são sites redes sociais e/ou mecanismos de buscas como Facebook e Google. Combinando o uso de cookies e algoritmos, essas empresas conseguiram oferecer aos usuários uma experiência personalizada no que tange tanto ao conteúdo quando à publicidade. Essa transformação pode ser encarada como uma derrota para as grandes empresas de comunicação que, na Internet, deixam de ser os grandes alvos da indústria dos anúncios publicitários. A solução encontrada pelas gigantes da internet fez com que o antigo modelo de programação da radiodifusão, feito a partir de pesquisas de audiência, que apesar de desenvolvidas a partir de métodos das Ciências Sociais tinham grandes grupos demográficos como alvo, fosse substituído por algoritmos que possuem como objetivo o indivíduo. Para montar essa “programação” individualizada, portanto, os grandes sites de redes sociais rastreiam cada interação feita pelos indivíduos com amigos, e-commerce, sites de notícias etc.

A partir daí, entramos na consequência desses desenvolvimentos para o debate político. Os cookies e algoritmos usados pelos sites de redes sociais formam o que Eli Parisier denomina de bolha dos filtros. Os algoritmos determinam quais notícias, amigos e anúncios publicitários mais aparecem em nossa linha do tempo a partir de nossas interações anteriores. Como há uma tendência de procurarmos justificativas para nossas ideias nos campos político, religioso e moral; os algoritmos acabam criando bolhas nas quais somos super expostos às nossas preferências prévias. A interação com pessoas e conteúdos com ideias afins, tendem a reforçar essas ideias em um círculo vicioso, tornando a internet um ambiente propício para o surgimento de boatos, que se difundem em grande velocidade por redes de indivíduos que partilham das mesmas ideologias.

Outra grande questão é que a internet derruba drasticamente as barreiras de entrada para empresas de produção de conteúdo. Dessa forma, qualquer adolescente pode construir um site com um layout próximo ao utilizado por grandes empresas de comunicação, e ainda imitar o formato do gênero notícia. Como o conteúdo e a publicidade são personalizados pelos algoritmos, os sites de notícias falsas, muitas vezes, recebem o seu quinhão da indústria da publicidade sem precisarem apurar, uma vez que não há fatos a serem checados, e usando pequenas estruturas, o que torna a operação barata. Essas indústrias não são apenas uma ameaça à credibilidade das empresas de jornalismo, mas também à sua rentabilidade, pois podem começar a ameaçar a parte dessa indústria no bolo da publicidade, menor a cada dia que passa.

Além da publicidade, a Indústria Cultural produz também propaganda. As notícias falsas podem ser encaradas como uma nova forma de propaganda, que ganha contornos mais sofisticados com os algoritmos e a emulação de práticas do jornalismo. Um indício dessa hipótese pode ser encontrada na indústria de boatos e notícias no Brasil, que remonta pelo menos 2011 ou 2012. A partir dali, surgiam boatos de que Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, seria dono da Friboi, ou que o próprio presidente Lula usaria um jatinho de propriedade de seu filho. Notícias comprovadamente falsas, mas amplamente difundidas nas redes sociais, e que não receberam qualquer esforço da grande imprensa para que fossem desmascaradas. Na campanha presidencial de 2014, notícias e perfis falsos para propaganda foram utilizados pelos principais partidos em disputa. A disputa ideológica pelo impeachment e os debates em seu entorno seguem o mesmo padrão. A tendência torna-se fonte de preocupação da imprensa nacional apenas a partir de 2016, após a concretização do impeachment, talvez porque o trabalho sujo já tivesse sido realizado, e a indústria de notícias tenha se tornado um incômodo, minando a credibilidade da grande imprensa e concorrendo pela atenção e, consequentemente, pelas verbas publicitárias.

*Carlos Figueiredo é Jornalista, pesquisador de Pós-Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOM/UFS), Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e pesquisador associado ao Grupo de Pesquisa OBCOM/CEPOS da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

 

Programação dos GTs do XV Seminário OBSCOM/CEPOS

A organização do XV Seminário OBSCOM/CEPOS divulgou a programação completa dos quatro grupos de trabalho que farão parte do III Encontro de Grupos de Pesquisa em EPC. O evento acontece nos idas 19 e 20 de abril na Universidade Federal de Sergipe e a apresentação dos trabalhos será na quinta-feira (20), em duas sessões por GT: 10h45-12h15 e 14h30-16h.

Os GTs e seus respectivos locais de realização na UFS são: GT1 – Digitalização, convergência, padrões tecnoestéticos e práxis política nas indústrias de comunicação, com coordenação de Fábio Rodrigues de Moura, a ocorrer no Auditório da ADUFS; GT2 – A Economia Política e o negro na periferia do sistema, com coordenação de Olinto Silveira Alves Filho, a ocorrer na Sala de Reuniões do DEE; GT3 – Indústrias culturais em transformação: mercado, tecnologia e trabalho, sob coordenação de Verlane Aragão Santos, a ocorrer no LABINI; GT4 – Democratização, diversidade e questão racional nas políticas públicas culturais, sob coordenação de Paulo Vitor Purificação Melo, no auditório do CCSA.

Confira a ordem das apresentações clicando em:

Veja a programação completa do evento em: https://eptic.com.br/programacao-xv-obscomcepos/